O mito da felicidade

Maria Regina Canhos Vicentin *

Erroneamente imaginamos que a felicidade se caracteriza pela ausência de dissabores. Apenas alegria e contentamento, nada de contrariedades. Assim é fácil perceber porque é tão difícil ser feliz. Não há como ter uma vida livre de dificuldades. Pois, se o desafio é exatamente esse, crescer à custa do enfrentamento de situações adversas, como deixar de vivenciá-las?

Observando por este ângulo, a felicidade estaria mais próxima da sensação que advém do êxito em driblar adversidades. Deduz-se que não há como ser feliz sem problemas, pois se inexistem problemas inexistem situações a serem enfrentadas. E se não existem situações a serem enfrentadas, não há êxito a ser conquistado. Interessante, não é mesmo?

Principalmente se levarmos em conta a ideia dominante de felicidade como sendo a ausência de problemas. Obviamente, você já percebeu que para uma pessoa poder ser feliz, ela necessariamente tem de ter problemas, ou não? Está ficando complicado?

Ora, mas ser feliz é tão descomplicado. E é descomplicado porque é feliz todo aquele que assim o deseja. É preciso querer ser feliz para efetivamente o ser. Será que a felicidade é uma opção? Bingo! É uma opção. É feliz aquele que quer ser feliz. Temos a liberdade de escolher com que cor desejamos pintar a nossa vida. Nossas escolhas vão delimitando os caminhos que iremos trilhar. Nesse sentido, é muito importante saber escolher.

Acabo de me lembrar de uma passagem bíblica em que Jesus diz: "Marta, Marta, andas muito inquieta e te preocupas com muitas coisas; no entanto, uma só coisa é necessária; Maria escolheu a boa parte, que não lhe será tirada." (Lc 10, 41-42). A boa parte não nos será tirada, mas, às vezes, podemos excluí-la de nossa vida, ainda que sem perceber. Marta estava assoberbada com o trabalho doméstico e se descuidava do principal. Quantas vezes nos descuidamos do principal?

Dalai Lama disse se surpreender com os homens que "perdem a saúde para juntar dinheiro, depois perdem o dinheiro para recuperar a saúde", e não é assim mesmo que acontece?

Para vivermos felizes precisamos modificar a ideia dominante de felicidade. Felicidade não é ausência de problemas a serem enfrentados, e sim acolhimento das situações, sejam positivas ou negativas, como forma de aprendizado e aperfeiçoamento.

Estamos em processo de desenvolvimento. A criação continua acontecendo. Nossas células se renovam a cada dia, e não podemos ficar estagnados em conceitos estreitos e limitantes. A felicidade não é bem o que parece, mas existe sim, e todos nós podemos escolher ser felizes.

* Maria Regina Canhos Vicentin (e.mail: contato@mariaregina.com.br) é escritora. Acesse e divulgue o site da autora:www.mariaregina.com.br.

 

 

Fonte: www.mariaregina.com.br

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