Pedro e Paulo: colunas da Igreja

Orani João Tempesta *

A celebração da Solenidade de Pedro e Paulo nos dá ocasião para aprofundar o nosso amor à Igreja e a nossa missão aos povos. Em ambos vemos a nossa missão de discípulos missionários.

Pedro e Paulo aparecem como anunciadores do Evangelho para os povos, fundadores de comunidades cristãs e testemunhas de Cristo até o martírio. A festa de hoje associa-os na fé em Cristo e na fundação da Igreja de Roma. Com especial atenção e alto valor teológico, o autor dos Atos dos Apóstolos enfatiza a sintonia entre Pedro na prisão e a comunidade cristã (At 12,1-11, primeira leitura): "Da Igreja subia fervorosamente a Deus uma oração por ele" (v. 5). A libertação milagrosa de Pedro da prisão o torna, então, livre para outros horizontes missionários.

São Paulo, na prisão, faz um balanço de sua vida (2Tm 4,6-8.17-18, segunda leitura), dá graças ao Senhor que esteve perto dele e deu-lhe força para que ele pudesse "levar a cumprimento o anúncio do Evangelho a todos e as gentes o aceitassem" (v. 17).

O serviço missionário de Pedro, dos apóstolos e de todos os cristãos funda, necessariamente, as raízes na experiência de uma chamada e correspondida no amor. "Eu sei em quem eu confiei", afirma Paulo, sem hesitação (2 Tm 1,12). Pedro vai gradualmente crescendo na confiança e no abandono ao seu Mestre. Pedro vai além da opinião corrente, para acolher a novidade de Jesus: "Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo" (v. 16). Essa resposta ultrapassa a compreensão humana (da carne e do sangue), porque é o resultado de uma revelação do Pai (v. 17). Então, Jesus, em um clima de profunda abertura, revela a Pedro e aos outros discípulos o seu projeto para uma nova comunidade, sua Igreja, que vai durar para sempre (v. 18). Depois da paixão e morte de Cristo, a fé de Pedro, em Cristo, é total: "Senhor, Tu sabes tudo, tu sabes que eu te amo" (Jo 21, 17).

Apesar das dificuldades e resistências contra esses textos de Mateus e João, o plano de Jesus em relação à Igreja subsiste no tempo, de acordo com a tradicional interpretação das três metáforas: a pedra (v. 18), as chaves (v. 19) e o binômio ligar-desligar (v. 19), que são a confirmação pós-pascal a Pedro do seu serviço de apascentar, no amor, o povo da nova aliança (cf. Jo 21,15 s). Para Jesus, que é "o Senhor e o Mestre" (Jo 13, 14), que "não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida" (Mateus 20, 28), a autoridade é dada a Pedro e à Igreja para um serviço ao povo de Deus, em uma diaconia do amor sem fim.

O Concílio nos dá a dimensão teológica e missionária desse projeto: "Em cada época e toda nação é agradável a Deus aquele que o teme e age com justiça (cf. At 10, 35). Mas Deus quer santificar e salvar os homens, não individualmente, e sem qualquer vinculação mútua, mas quer transformá-lo em um povo "(LG 9). De fato, "a Igreja peregrina é missionária por natureza" (AG 2). Porque "existe para evangelizar" (EN 14). Não é secundário o fato de que Jesus fale de seu projeto estando presente em um território pagão (região de Cesaréia de Filipe), em um contexto geográfico semelhante ao da mulher cananeia: esses fatos narrados por Mateus demonstram o caráter universal da missão de Cristo e da Igreja.

A liturgia deste dia nos convida a refletir sobre a fidelidade e testemunho dos dois pilares da Igreja. Pedro mostra-nos as chaves do reino, primeiro príncipe dos apóstolos. Ouvir a sua confissão, que agora pertence a nós como seguidores da mesma fé. Sentimo-nos como a fonte da nossa alegria pertencer a Cristo, a fonte da qual ele bebeu a mesma fé, o compromisso de também nos colocarmos como testemunhas. É também um dia de ação de graças a Deus, a Cristo Jesus pelos seus apóstolos, os fundadores da Igreja, nossa mãe. O que há para dizer na história da Igreja até os nossos dias, quando se vive um percurso onde as fragilidades humanas foram suplantadas pela força do Espírito. Quando em nossas escolas, universidades e livros a história é escrita excluindo a colaboração dos cristãos e até mesmo condenando a missão da Igreja, este momento de nossa liturgia é a hora de, mesmo reconhecendo as fragilidades históricas de nossas comunidades, olharmos com confiança para a missão desempenhada pelos seguidores de Cristo na construção da civilização do amor.

Temos a certeza de que ainda estamos apoiados sobre a rocha, que é o próprio Cristo, e sobre a Pedra, que é a fé do Apóstolo Pedro e de seus sucessores, e hoje do Romano Pontífice, o Papa Bento XVI. As portas do inferno, mesmo quando se manifestaram com violência contra nós, não prevaleceram. A promessa de Cristo é realizada em sua plenitude. A história de Pedro, no início fraco, arrogante e com medo, se torna depois corajoso e sem medo de dizer a verdade e a morrer como testemunho da sua fidelidade a Cristo. Isso se tornou substancialmente a história de nossa Igreja e de muitos cristãos.

Foi determinante nesse árduo caminho a contribuição de Paulo, convertido na estrada de Damasco, o Apóstolo dos gentios. Ele primeiro atravessou as fronteiras do mundo judaico para anunciar a mensagem da salvação aos gentios. A segunda leitura de hoje soa como um testemunho alegre que Paulo confidencia a seu amigo e colaborador Timóteo: "Quanto a mim, meu sangue está para ser derramado em libação e é chegado o momento de partir. Combati o bom combate, terminei minha carreira, guardei a fé. Agora eu só tenho a coroa da justiça que o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia, e não só a mim, mas também para todos aqueles que esperam a sua vinda ".

Ver espalhado em libação o seu sangue é a suprema aspiração do Apóstolo, após a labuta dura de seu intenso apostolado. Ele anseia ao martírio por querer estar totalmente assimilado a Cristo e, assim, dar o supremo testemunho de fidelidade e amor. Esses dois traçam, de modo diverso, o caminho da Igreja e de todos nós: fracos como Pedro antes de Pentecostes, porém fortalecidos depois da vinda do Espírito Santo. Nós, perseguidores do Senhor como Saulo, mas depois tranfigurados pela graça. Quem sabe se estamos também nós realmente prontos e dispostos a dar nossas vidas para Cristo?

Embora no Brasil a Solenidade de Pedro e Paulo tenha sido transferida para o Domingo, no entanto, no dia de 29 de junho celebramos também os sessenta anos de nosso Papa Bento XVI, sucessor de Pedro, o doce Cristo na terra. Rezemos por sua missão!

* Dom Orani João Tempesta, O. Cist. Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro - RJ.

 

Fonte: www.cnbb.org.br

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