Que estilo de Vida Consagrada queremos hoje?

Jaime C. Patias

Como organizar a vida missionária, no presente e no futuro, diante de um mundo caracterizado pelo secularismo, violência, terrorismo e fome? Que tipo de reestruturação é necessário para dar nova vitalidade à missão das Congregações Religiosas? Partindo de preocupações como essas, o Superior Geral da congregação dos Passionistas, padre Ottaviano D´Egidio, partilhou, nesta segunda-feira (23), o processo de reestruturação em curso na sua Ordem, em conferência dirigida aos missionários e missionárias da Consolata, reunidos em Roma, para seus capítulos gerais.

Animados pela Direção Geral e envolvendo todos os seus religiosos, os Passionistas iniciaram, em 2004, uma ousada reestruturação da congregação. Os trabalhos são coordenados por uma comissão prevendo concluir o processo no Capítulo Geral de 2012. Segundo padre Ottaviano, pensar a organização mais adequada para a Vida Consagrada é um dos maiores desafios enfrentados pelas congregações hoje. "A partir do Concílio Vaticano II, a renovação na Igreja provocou um processo de re-fundação da Vida Religiosa. É preciso ter olhos e coração abertos para repensar o carisma, a presença e a missão", observou o teólogo afirmando que, "a eficácia da nossa Missão é a nossa própria vida. Vivemos se realizamos a nossa Missão, assim como o fermento vive, somente se fermentar a massa. Estamos convencidos que temos de vencer as resistências e o medo do nosso próprio coração", ponderou o padre Geral.

Na opinião do religioso passionista, os princípios que orientam uma eficaz reestruturação devem "colocar toda a Congregação em estado de diálogo e discernimento; a participação no processo deverá levar toda a congregação à conversão; somente uma profunda mudança interior poderá tornar cada um de nós capaz de contribuir para a renovação. Estamos convencidos que este processo, fruto de reflexão, diálogo e oração é necessário, se queremos propor o estilo de vida passionista como modelo para o futuro", sublinhou.

O objetivo é retornar ao interior do carisma, da Igreja e do mundo para dar nova vitalidade. "Redesenhar e descobrir o novo visual da nossa Vida Religiosa e abrir novos horizontes com os grandes valores de referência, nos permitirá superar, com mais facilidade, a fragmentação no interior das Províncias e os problemas que ao longo do caminho permanecem insolúveis", observou padre Ottaviano, destacando ainda três objetivos no processo: a) "encorajar cada um dos religiosos a se deixar envolver na renovação; b) encontrar unidade de intento que faça compreender e acolher a realidade de hoje, fazendo escolhas prioritárias que nos guiem no futuro; c) discernir e reformular o significado de ser passionista hoje, fiel ao nosso Fundador e atentos aos desafios do amanhã". Esse itinerário pode ser seguido por qualquer congregação que deseja se renovar.

Falando das dificuldades no processo de mudança, o teólogo advertiu para três tentações: "a primeira é a de buscar logo soluções institucionais e técnicas evitando ir à raiz do nosso próprio ‘ser consagrado'. A segunda é a tentação do desconforto e de abandono, de caminhar diante das dificuldades, da idade avançada, da mentalidade. A terceira tentação a ser evitada é aquela da incredulidade, de não acreditar que as coisas podem mudar e que uma nova vida pode germinar", destacou.

O conferencista está convencido que, "a oferta de nós mesmo vivendo sereno e com fé, já é Missão, uma oblação a Deus, uma oferta na cruz de Jesus". A organização das instituições é instrumento de mediação para perceber a vontade de Deus. "Deus acompanha a nossa Vida Religiosa com sua palavra todos os dias que aparece aplicada à nossa realidade", avaliou.

Assessorados pela Irmã Christine Anderson, a mesma que, durante o XII Capítulo Geral assessora os missionários da Consolata, os Passionistas escolheram a "solidariedade" como expressão evangélica, em três âmbitos: na formação, no pessoal e nas finanças.

Outro desafio recorrente que pode bloquear o caminho é achar que não estamos prontos para mudanças. "Ainda não estamos preparados para um passo que achamos importante; precisamos outro tempo de reflexão e aprofundamento que nos leve à conversão", é segundo padre Ottaviano, uma afirmação muito comum. Refletindo sobre esse medo, o religioso questionou: "certamente a preparação é sempre insuficiente e pode melhorar, mas se olharmos para o Evangelho nas escolhas de Jesus, no que se refere à sua Paixão, chega o momento no qual os discípulos devem superar todas as dúvidas para realizar os planos de Deus. Se Jesus tivesse de esperar que eles estivessem preparados, a hora da Paixão jamais teria chegado", arrematou o padre.

Fundados na Itália, pelo reitor do Santuário da Consolata, o Bem-aventurado José Allamano, em 1901 e 1910, respectivamente, hoje os Missionários e Missionárias da Consolata, contam com cerca de 1.700 membros provenientes de diversos países e atuando em quatro continentes. Esta semana, os trabalhos dos capítulos seguem com o discernimento e escolha dos principais temas a serem enfrentados nas discussões e decisões.

 

Fonte: Revista Missões

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