???A Missão é de Deus, nós somos apenas instrumentos em suas mãos???, afirma padre Antônio Pernia, superior Geral da Sociedade do Verbo Divino

Jaime C. Patias

"O centro e a origem da Missão não é a Igreja, mas o Reino de Deus", afirmou o padre filipino, Antônio Pernia, superior Geral da Sociedade do Verbo Divino - SVD, em conferência realizada hoje pela manhã, dia 13 de maio, durante o XII Capítulo Geral dos Missionários da Consolata, em Roma.

Refletindo sobre a Missão hoje, o teólogo sublinhou que "a Missão nasce da própria essência de Deus que é Trindade, e por isso é missionário. Nessa perspectiva a Missão deve construir o diálogo de Deus com o mundo e com a humanidade", disse, completando que "a Missão existe porque Deus é Trindade".

As mudanças na compreensão do conceito de Missão e na situação da Missão da Igreja, questiona a prática missionária hoje numa mudança época. Em base aos documentos do Concílio Vaticano II, padre Pernia destacou a mudança de perspectiva, afirmando que "o fim da Missão não é a Igreja, mas o Plano de Salvação de Deus que é universal". O teólogo iluminou suas colocações citando a passagem do Evangelho segundo Lucas, 4, 16-30, que relata o discurso de Jesus na Sinagoga de Nazaré quando aplica a profecia de Isaías. "...anunciar a libertação aos pobres... restaurar a vista aos cegos...."

Padre Pernia recordou que, no tempo colonial, a forma e o modo de se fazer Missão era conquistar os nativos. "Hoje devemos pensar a Missão como a Missão de Deus reconhecendo que Ele está em diálogo com toda a humanidade. Assim, o diálogo não é uma opção, mas um imperativo missiológico, conforme falam os documentos conciliares e pós-conciliares",  recordando que, "com o surgimento de missionários vindo do sul do mundo, a Europa não é mais considerada o centro. Essa não é uma situação somente de Missão inversa, do sul para o norte, como se afirma, mas do sul ao sul".

Analisando a situação do mundo, padre Pernia chamou a atenção para a crescente multiculturalidade causada pela mobilidade humana (com pelo menos 150 milhões de migrantes e 50 milhões de refugiados) de diversas partes e que muda o rosto das nossas cidades e obriga as pessoas a viverem na diferença. "Como conseqüência disso", ponderou, "a Missão Ad Gentes não pode mais ser considerada como ad extra (para fora), por que as ‘gentes' estão em todos os lugares, aqui em nosso meio", disse afirmando que, "o conceito de Missão inter-gentes complementa e enriquece o Ad gentes pensado apenas como missão ad extra. Inter-gentes como diálogo com as gentes; como encontro entre as ‘gentes'; missão que faz a própria morada no meio da gente", sublinhou. "Isso faz parte da inculturação e da encarnação que o próprio Cristo viveu. Somente quando o missionário é capaz de se tornar um entre a ‘gente' poderá comunicar Jesus Cristo", completou.

Como conseqüências desse nova percepção da Missão como inter-gentes está "o compromisso de construir uma Igreja multicultural como um instrumento de diálogo, sinal do Reino de Deus. Nasce uma Igreja mais acolhedora, casa de culturas diversas, que encoraja o respeito pela diferenças culturais e promove uma integração saudável entre as culturas", destacou o teólogo.

Padre Parnia sublinhou ainda que, essa nova visão requer quatro conversões: "passar do ativismo à contemplação, do individualismo à colaboração, da superioridade à humildade e da atitude de somente querer evangelizar à de ser evangelizado". Encerrou suas reflexões com uma oração atribuída à dom Oscar Romero, arcebispo de San Salvador, assassinado em 1980, que recordava a centralidade da Missão: "A Missão é de Deus, nós somos apenas instrumentos em suas mãos".

O XII Capítulo Geral dos Missionários da Consolata acontece na Casa Geral da congregação, em Roma. Iniciou no dia 09 de maio e se estenderá até o dia 20 de junho.

Fonte: Revista Missões

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