Gentileza x Bajulação

Maria Regina Canhos Vicentin *

Fiquei surpresa esta semana ao ser convidada para dar minha opinião sobre a gentileza. Ora, pensei, ainda existe quem se preocupa com isso. Que bom! Obviamente, é difícil falar sobre o assunto de forma condensada, sujeita ao limite de umas poucas palavras, pois se trata de campo vasto. A gentileza está relacionada à educação, aos bons modos, e precisa ser exercitada desde cedo. Devemos ensinar nossos filhos a serem gentis quando pequenos se desejamos que eles o sejam quando adultos. É difícil aprender a ser gentil depois de maduro, pois a gentileza implica num abrir-se aos demais, aproximar-se de forma amistosa, querer agradar espontaneamente, sem outro interesse que não seja a satisfação dos demais e a da própria pessoa. Hoje em dia, o que existe muito é a bajulação, que é bem diferente da gentileza. O indivíduo é elogiado sem trégua, porque existe um interesse nada amistoso por detrás.

A Bíblia diz em Salmos 11, 2-3: "Salvai-nos, Senhor, pois desaparecem os homens piedosos, e a lealdade se extingue entre os homens. Uns não têm para com os outros senão palavras mentirosas; adulação na boca, duplicidade no coração".

Percebemos que esse é um problema antigo; sempre existiu e já causava estragos. Atualmente, não é diferente. Algumas pessoas confundem gentileza com bajulação. Ser gentil é olhar nos olhos, revelando apreço pelo interlocutor. É dizer bom dia, boa tarde, boa noite, cumprimentando com um sorriso todos aqueles que cruzam o nosso caminho. É prestar um favor. Desculpar-se quando necessário. Agradecer sempre. Pedir licença para não invadir o espaço alheio. Falar baixo, demonstrar respeito pelo outro, ceder o lugar para gestantes, idosos ou deficientes. Ser gentil é não julgar, apenas conviver. Podem-se dizer as verdades, mas sempre de forma amorosa, visando a promoção do outro.

Bajulação é outra coisa. Seleciona pessoas, e coroa algumas com distinção, muitas vezes, imerecida. Toda ação, cumprimento ou elogio tem um objetivo determinado, portanto, nem sempre são sinceros; costumam ser falsos e mentirosos. A satisfação existe, mas surge apenas quando se atinge o alvo. Trata-se de um contentamento interesseiro, e serve apenas para estimular o próximo passo. Algumas pessoas violentam os próprios hábitos visando agradar seus eleitos, mas tudo não passa de artimanha para alcançar um determinado fim. Atingido o objetivo, os bajuladores costumam eleger novos alvos, dando sequência aos seus planos que podem variar muito, dependendo dos interesses de cada um.

Lamentavelmente, nem sempre conseguimos identificar quando alguém está sendo gentil ou bajulador. Alguns desconfiam até da mínima atenção, supondo se tratar de adulação, quando na realidade é mera cordialidade. Melhor é tratar a todos com simpatia e, usando de autocrítica, observar o modo como a pessoa se aproxima de nós. Se for de forma amistosa, é provável que se trate de alguém gentil; já se for de forma interesseira...

* Maria Regina Canhos Vicentin (e.mail: contato@mariaregina.com.br) é escritora. Acesse e divulgue o site da autora: www.mariaregina.com.br.

Fonte: www.mariaregina.com.br

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