Alfredo J. Gonçalves , CS*
Comemoramos hoje, 28 de janeiro, o Dia de Combate ao Trabalho Escravo. Trata-se de uma das contradições mais flagrantes da sociedade moderna ou pós-moderna. Ela convive, ao mesmo tempo, com a ciência e a tecnologia mais avançada e com formas de trabalho execradas ao longo da história.
Há o trabalho escravo propriamente dito, mas há também formas de trabalho análogas ao trabalho escravo, como o trabalho precário, insalubre e degradante: trabalho infantil, com crianças sem escolarização; trabalho domiciliar, remunerado por peça, onde contribuem idosos, crianças, etc.; dupla ou tríplice jornada de trabalho, especialmente no caso das mulheres; trabalho feminino com remuneração inferior ao masculino; trabalho autônomo, como forma de auto-escravidão.
Não há dúvida que por trás dessas formas ultrapassadas de trabalho, em plena era da tecnologia de ponta, sempre existe expressivos movimentos migratórios, temporários ou definitivos. Como exemplo, podemos citar o corte de cana na agro-indústria; as safras agrícolas, tais como a colheita do café, da laranja ou de frutas em geral; as grandes obras, onde predominam contratos precários com empreiteiras; os serviços domésticos em geral, particularmente na regiões de turismo; a indústria têxtil de fundo de quintal...
Inúmeros migrantes internos e imigrantes em situação irregular habitam esses porões e esconderijos, onde se trabalha muito e se ganha pouco. A falta de segurança e de garantias no trabalho traz como consequência direta, a mutilação dos direitos básicos para uma cidadania digna: acesso à educação, à saúde, à habitação, a um endereço... "Aí as pessoas não moram, se escondem", como diz o humor sombrio. Também não podemos esquecer o crime organizado, em nível nacional e mundial, onde predomina o tráfico de pessoas para exploração trabalhista ou sexual.
Combater o trabalho escravo é erguer a voz contra todo tipo de serviço precário e degradante que prolifera nos locais e ambientes mais sórdidos da sociedade. Ironicamente, o capitalismo neoliberal, qual camaleão em constante mudança, incorpora essas formas não capitalistas de relações de trabalho, para fortalecer os laços da exploração e do acúmulo de capital. Daí a necessidade de dar um basta à migração forçada e ao trabalho escravo, degradante, aviltante...
* Alfredo J. Gonçalves, CS, superior provincial dos missionários carlistas e assessor das pastorais sociais.
Fonte: www.provinciasaopaulo.com