Maria Emerenciana Raia *
"A Aids não é mortal. Mortal somos todos nós" (Herbert de Souza, o Betinho).
Em 1988, a Organização Mundial da Saúde - OMS, instituiu o dia 1º de dezembro como o Dia Mundial da Aids. Com o passar dos anos e o avanço no conhecimento da doença, a data tornou-se o Dia Mundial de Combate ao HIV. Muito mais que o combate à doença, é necessário uma luta contra o preconceito. O portador do vírus HIV ainda é marginalizado, tanto pela família, quanto pela sociedade. Poderíamos fazer uma comparação entre os portadores do HIV hoje e os leprosos no tempo de Jesus. O Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Unaids) afirma que há mais de 6.800 novas contaminações pelo vírus HIV no mundo todos os dias e mais de 5.700 mortes diárias em virtude da doença. De 1980 a junho de 2009, foram registrados 544.846 casos no Brasil, de acordo com o Departamento de Doenças Sexualmente Transmissíveis, Aids e Hepatites Virais, do Ministério da Saúde. Durante esse período, mais de 200 mil mortes aconteceram em decorrência da patologia. O Boletim Epidemiológico Aids/DST de 2009 indica que 8.157 homens e 5.501 mulheres receberam o diagnóstico no país, sendo que a maioria tem entre 40 e 49 anos. Mas, na comparação entre 2008 (20.744 em homens, e 13.733, em mulheres) e 2007 (20.496 em homens e 13.411, em mulheres), a ocorrência tem se mantido estável.
A razão de sexo (número de casos em homens dividido por número de casos em mulheres) diminuiu consideravelmente do início da epidemia para os dias atuais. Em 1986, era de 15 casos em homens para cada um em mulheres. A partir de 2003, estabilizou-se: para cada 15 diagnósticos em homens, há dez em mulheres. O que chama a atenção é que, entre 13 e 19 anos, o número é maior entre as meninas: dez contra oito em meninos. O que comemorar então no dia 1º de dezembro? Não se trata de comemoração, mas sim, de conscientização. Os portadores do HIV são nossos irmãos e irmãs, e por isso merecem respeito. Muitos sofrem mais com o preconceito, do que com os efeitos da doença.
Casas de Apoio
Os missionários da Consolata assumiram oficialmente, em 2008, a causa dos portadores do vírus HIV como "missão" na cidade de São Paulo, mas, já em 1991, padre Valeriano havia fundado o Lar Betania. As Casas de Apoio se tornam novos lares para os portadores do vírus. Não se trata de depósitos de seres humanos que esperam a morte. Mesmo no começo da epidemia, quando ainda não existiam os remédios, nas Casas de Apoio se promovia a vida em plenitude, dando esperança e coragem para vencer. Os objetivos das Casas sempre visaram a recuperação da autoestima, da dignidade humana e divina dos moradores, em vista de uma reinserção plena no âmbito social com os seus direitos humanos respeitados. Elas continuam sendo um espaço físico de amparo e segurança, um ambiente familiar com características próprias onde a acolhida, a solidariedade, o respeito e a partilha garantem um relacionamento socioafetivo indispensável para uma recuperação plena. São quatro Casas que oferecem abrigo, acolhida e apoio: Lar Betania, para adultos, mantida pelo IMC e Casa Siloé, Lar Suzanne e Vila Vitória, para crianças, adolescentes e jovens, mantidas pela Sociedade Padre Costanzo Dalbésio. Há mais de dez anos elas existem, e já ajudaram dezenas de crianças, adolescentes, jovens e adultos a sobreviverem e a adquirirem autoestima suficiente para enfrentarem a sociedade. Um dia específico de combate ao HIV serve para nos lembrar que a luta contra este vírus é diária, importante, e nunca deve ser negligenciada. Porém, esta data deve também nos ensinar que o combate ao preconceito é eterno. n
* Maria Emerenciana Raia é jornalista e editora da revista Missões. Publicado na edição Nº09 - Novembro 2010 - Revista Missões.
Fonte: Revista Missões