Mobilidade humana e ???Missão Intergentes???

Mário de Carli e Ubajara de Figueiredo

A Semana Brasileira na Missão Continental que encerra hoje,11 de setembro, no Centro Cultural Missionário - CCM, em Brasília refletiu, na manhã do dia 10, sobre "Mobilidade humana e missão intergentes". "O nosso objetivo é tentar compreender o significado da mobilidade humana e discernir as proposta de evangelização que lhes seja apropriada no contexto da Missão Continental", afirmou o padre Sidnei Marco Dornelas CS, assessor do Setor Mobilidade Humana e Missão Continental da CNBB, ao abordar o tema.

Neste sentido, falar de "mobilidade humana" é falar de gentes, de grupos humanos que vão e voltam na busca de uma condição de vida mais digna. Para a Igreja, o objetivo de sua missão não é somente atingir os que estão perto, mas abrir-se aos novos contingentes humanos que migram constantemente, dando conta que urge superar os problemas do etnocentrismo.

"A missão intergentes seria "a etapa mais avançada na Missão Continental para ir direção aos afastados, os que estão excluídos da sociedade que não são alcançados pela ação evangelização da Igreja" - disse padre Sidnei. Para a Igreja abrir-se aos migrantes necessita levar em conta as condições sociais em que eles se encontram. A condição social do migrante está na sua provisoriedade permanente, na sua instabilidade constante. Ao entrar no território "alheio", sua presença incomoda, desinstala a população local e refaz seus referenciais religiosos e culturais.

Segundo padre Sidnei a "Igreja ao desenvolver suas ações pastorais se defronta com a presença dos migrantes que chegam de todos os lados, e entram no "território" paroquial e vão marcar novas formas de ocupar o "espaço eclesial" da Igreja" - afirmou o expositor. Algo eles tem a dizer e a ação pastoral vai recebendo novos contornos e novas ações, desde que a Igreja esteja aberta à novidade e aos desafios, e cada um ocupe o seu lugar e ambos se acolham e se respeitem. Para isto tudo é fundamental que se estabeleça condições de diálogo numa linguagem comum em que se saiba conviver com as diferenças.

Documentos da Igreja sobre as Migrações
Com a Revolução Industrial surge a mobilidade humana e a expansão em função do capitalismo emergente. "A Família de Nazaré no Exílio" de Pio XII, publicado em 1 de agosto de 1952 foi escrita para animar as famílias migrantes católicas. Paulo VI, em 1969, também escreveu sobre "O cuidado pastoral dos migrantes", onde ele se volta para as novas situações em que se encontram os migrantes. O Papa João Paulo II, em 1988, funda o Pontifício Conselho da Pastoral para os Migrantes Itinerantes. Em 2004, a Instrução "A caridade de Cristo para com os Migrantes", focaliza as migrações no contexto da Globalização. Trata de temas importantes entre outros: Políticas que negam direitos fundamentais dos migrantes; nacionalismo exacerbado, violência e xenofobia; tráfico de seres humanos e trabalho degradante; aumento dos refugiados e deslocados internos.

No Brasil, fruto de toda esta caminhada foi a Campanha da Fraternidade de 1980 com o tema "Para onde vais". Com isso se inicia um processo de organização pastoral apoiado nas CEBs e pastorais populares.

Conferência de Aparecida (2007)
Entre os "rostos sofredores que doem em nós" encontram-se os migrantes, afirma o Documento de Aparecida (n. 411- 416). Para o padre Sidnei, "o objetivo de Aparecida é tornar o migrante protagonista dentro da Igreja. Este é o objetivo da pastoral da mobilidade humana. A Igreja como Mãe, deve sentir-se como Igreja sem fronteiras, Igreja familiar, atenta ao fenômeno crescente da mobilidade humana em seus diversos setores. Considera indispensável o desenvolvimento de uma mentalidade e espiritualidade a serviço da pastoral dos irmãos em mobilidade, para recuperara inteireza da pessoa humana e reintegrar na sociedade e na Igreja".

O migrante da cidade tem um mundo fragmentado e a missão permanente deve se fazer presente nos setores afastados, excluídos e segregados. "Missão Intergentes - não é contra ninguém, mas ir "ad omnes" ir a toda gente. Neste contexto você tem o diferente na frente de sua porta, de sua rua. Eles estão em todos os lados. Construir a Igreja com estes que vieram do norte ou do sul, da Bolivia ou do Paraguai. Esta é a nova perspectiva da Missão Continental - abrir-se e acolher o diferente, integrá-lo para tornar uma força viva e atuante na comum casa em que habitamos", concluiu padre Sidnei.

Fonte: Revista Missões

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