A vocação e os cristãos leigos

Orani João Tempesta *

Completamos o jubileu de ouro da convocação do Concílio Vaticano II. As comemorações desse evento importante do século XX será uma oportunidade muito boa para que examinemos nossos passos dados e as propostas do Concílio.

Um dos aspectos levantados foi sobre o papel e a missão do cristão leigo na Igreja. A grande preocupação era não apenas de uma maior participação nas preocupações e trabalhos internos à comunidade, como, principalmente, o testemunho na sociedade, nas realidades temporais.

O fato de o cristão leigo não deveria ser apenas um expectador ou destinatário da mensagem evangélica e das preocupações da Igreja, mas, sim, ser consciente de sua missão de cristão ao interno da Igreja e testemunhando Jesus Cristo à sociedade.

Este foi um aspecto importante do Concílio Ecumênico Vaticano II, que foi um impulso dado pelo Espírito Santo à Igreja e sua presença no mundo hodierno, mas, dentre as variadas conquistas, podemos afirmar que uma delas foi certamente a valorização da vida e missão dos cristãos leigos, que emergiu como um elemento fundamental para a nova realidade do mundo em transformação.

A presença do cristão leigo está em muitos documentos, mas o Apostolicam actuositatem é dedicado totalmente ao cristão leigo. Creio que seja o primeiro num Concílio em toda a história da Igreja.

Dá-se uma nova ênfase ao conceito basilar da evangelização do mundo, sua transformação para uma feição mais humanizada, mais justa, e, portanto, mais cristã. Passamos, então, a falar da missão da Igreja no mundo, servindo ao reino e não a si mesma.

Portanto, nesta missão evangelizadora da Igreja, recorda-se a missão do cristão leigo, que, vivendo em sua realidade temporal, é chamado a ser sal, luz e fermento e assim transformar a realidade através de sua profissão, da sua presença na sociedade, na política, na cultura, nas ciências, nos esportes, e muito mais. Realidades que não são alcançadas apenas pelo clero nas suas atividades e missão cotidiana, mas que precisa de um protagonista. Aos leigos é dada essa vocação específica: fazer a Igreja presente e fecunda naqueles lugares e circunstâncias onde somente através dos leigos ela pode se tornar o sal da terra.

O Papa Paulo VI afirmava que os leigos são como uma ponte que une a Igreja à Sociedade. Não como uma interferência da Igreja na ordem temporal ou nas estruturas dos assuntos mais afetos à vida política ou econômica, mas, sim, para não deixar que o nosso mundo fique sem a mensagem da salvação crista, sem as luzes do Evangelho e da mensagem de Cristo. Portanto, os leigos são chamados a estabelecer este contato entre a vida eclesial e a sociedade, ser os construtores de uma nova maneira de servir o bem comum e imbuir a realidade terrestre de uma ordem transcendentes, eterna, Divina.

São Paulo nos afirma que toda a criação será recriada em Cristo. O mundo geme em dores de parto por uma nova ordem: mais justa, mais fraterna. Todos são convidados, portanto, a seguir o modelo de Cristo.

Os leigos são corresponsáveis pela missão da Igreja, companheiros de caminhada e em quem se confia, a quem se recorre, em quem se acredita e a quem se dá espaço na decisão, no planejamento e na execução das várias atividades na Igreja, e isso pela própria essência de sua consagração batismal.

Unidos a Cristo, através do Batismo, sacramento da fé, os leigos devem, portanto, estar atentos não só a uma pertença à Igreja, mas "ser" e sentir com a Igreja que é mistério de comunhão.

A V Conferência Episcopal Latino Americana, em Aparecida, afirma que "os fiéis são os cristãos que unidos a Cristo pelo Batismo, são o povo de Deus a participar nas funções de Cristo: sacerdote, profeta e rei. Eles fazem, de acordo com sua condição. São os homens da Igreja no coração do mundo, e homens do mundo no coração da Igreja. Sua missão é realizar o seu testemunho e atividade e contribuir para a transformação das realidades e para a criação de estruturas justas, segundo os critérios do Evangelho".

A missão não é somente uma escolha ou uma opção, mas, sim, um dom de Deus. A missão não é nossa nem de um grupo, mas é da Igreja, que nos envia, e no centro desta missão laical deve estar o Espírito do Senhor Ressuscitado, a quem obedecem com a mesma dignidade, mas com ministérios diversos, tanto os leigos como os ministros consagrados. Ter tal consciência desta centralidade da missão em Cristo é de fundamental importância na vida do laicato no seio da mãe Igreja.

Conclamo todos os leigos de nossa Arquidiocese, os católicos apostólicos e romanos, para viverem a grandeza de seu batismo, colocando a mão no arado e chamando a todos para o "vinde e vede" do senhor Jesus!

* Dom Orani João Tempesta, arcebispo do Rio de Janeiro.

Fonte: www.cnbb.org.br

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