Egon Heck *
Quanto mais vou conhecendo sobre o mundo guarani, mais me dou conta do pouco que deles sei e o quanto é belo, complexo e desafiador a realidade em que vivem e sua resistência de mais de 500 anos. Como disse recentemente a Kaiowá ,Valdelice Verón, em viagem de denúncia e sensibilização em São Paulo "Diziam que no ano dois mil não mais existiriam índios no Brasil. Estamos aqui, não só sobreviventes, mas vamos viver outros 500 anos, não vamos deixar de ser Guarani nunca".
Presente na Iª Assembléia dos Povos Indígenas de Goiás e Tocantins subitamente sou surpreendido por uma informação "vai falar Ivan Guarani, presidente da Organização Indígena do Tocantins". Fiquei intrigado e fui entender de que se tratava. "Meu pai veio de Dourados, no Mato Grosso do Sul, na década de sessenta. Foi andando e acabou se estabelecendo na região de Marabá, no Pará. Lá, mais recentemente o CTI comprou um pedaço de terra para a comunidade. Meu pai com algumas famílias vieram se estabelecer às margens do rio Araguaia, na região de Xambioá, em terras dos Karajá, onde vivemos até hoje". Depois Ivan fez questão de ressaltar que são bem aceitos pelos Karajá e enviou mensagem gravada para seus parentes Guarani, espalhados pela América do Sul e esse imenso Brasil. E Ivan fez questão de ressaltar que seu avô lutou na Guerra do Paraguai.
Um mundo de curiosidades e dúvidas povoam esse fato. Assim como tem Terena que saíram da Terra Indígena Buriti,no Mato Grosso do Sul, onde não mais cabiam, e acabaram no Porá, porque não Kaiowá Guarani irem parar em Xambioá! Essas curiosas rotas migratórias indígenas nada tem a ver com o expansionismo dominador, principalmente de gaúchos e paulistas, que foram ocupando esse país, do Chuí às fronteiras da Amazônia, em Roraima ou Alto Rio Negro. Porém elas nos remetem para reflexões mais aprofundadas sobre as razões e conseqüências dessa busca de outros céus, outros mares e outras terras, em tempos recentes.
Lula e luta Guarani
Hoje, quando o presidente Lula receber do representante Guarani na Comissão Nacional de Política Indigenista, documentos e imagens mostrando a dramática situação dos Guarani, uma vez mais vai ser fortemente interpelado: porque não está sendo resolvida a questão das terras Guarani? Certamente não será por falta de promessas, tempo (quase oito anos de governo) e talvez nem vontade pessoal do atual presidente. Porem a realidade mostra que as forças contrárias aos direitos dos índios estão prevalecendo e impondo um manto de violência e miséria às comunidades e povos Guarani.
Em recente relatório a Anistia Internacional mais uma vez se juntou às inúmeras vozes Guarani e de seus aliados no país e no mundo para dizer: basta de negação de nossas terras, basta de violência, basta discriminação e racismo!
* Egon Heck, Movimento-Campanha Povo Guarani, Grande Povo.
Fonte: Cimi MS