Arlindo Pereira Dias, de Roma
Uma instigante tese de doutorado foi apresentada na ultima quinta feira, 17 de Junho, na Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma. Trata-se do estudo "As Cristologias das Conferências gerais do Episcopado da América-Latina e do Caribe (de Rio de Janeiro a Aparecida)", do missionário Scalabriniano Paolo Parise. O estudo examina as visões cristológicas que emergem dos textos conclusivos dos documentos finais das Conferências Episcopais da América Latina e Caribe (Rio de Janeiro - 1955, Medellín - 1968, Puebla - 1979, Santo Domingo - 1992 e Aparecida - 2007).
Nascido em uma pequena Vila chamada Valle San Floriano, na província de Vicenza, Itália, ele estudou teologia no Brasil onde viveu por quinze anos. Após experiência pastoral passou a lecionar Cristologia no ITESP (Instituto Teológico São Paulo e no ITEL-Sé (Instituto de Teologia da Região Sé da Arquidiocese de São Paulo). Em 2008 retornou a Roma para realizar o doutorado.
A exposição apresentou as características Cristológicas surgidas em cada documento e fez uma comparação entre elas, destacando as linhas principais, a sua evolução, continuidade e descontinuidade. Com muita serenidade, na meia hora de que dispunha, Parise apresentou com muita clareza à banca examinadora e aos 60 convidados presentes um interessante panorama dos dados estudados e das reflexões feitas sobre as Conferencias. Ele iniciou sua fala recordando que quando chegou ao Brasil estava acontecendo a Conferencia de Santo Domingo e ao sair para os estudos, em 2008, a Conferência de Aparecida havia sido recém encerrada.
Segundo o autor, o âmbito Cristológico ainda não foi suficientemente estudado nos documentos. Apontando alguns dados ele disse que a conferencia do Rio de Janeiro faz 18 referencias à pessoa de Jesus Cristo. Já o documento de Medellín deu mais destaque à metodologia ver-julgar e agir. O documento de Puebla dedica uma seção à Cristologia e outra a Eclesiologia e à Antropologia. Em Santo Domingo a figura de Jesus Cristo é central. No documento de Aparecida o Capitulo IV è o mais Cristológico. Os papas marcaram presença em todas elas, com exceção do Rio de Janeiro, onde Pio XII não podendo estar presente enviou a carta "Ad Ecclesiam Christi". Na Conferência de Medellín também os teólogos Gustavo Gutierrez e Lucio Gera tiveram participação como peritos.
Parise ofereceu ainda outros detalhes interessantes. A Conferência de Medellín destaca a figura do Pai ao passo que a de Puebla dá mais atenção à figura do Filho. As conferências se concentraram basicamente em dois temas: um enfoque doutrinal em Puebla e Santo Domingo e um outro mais existencial em Aparecida. De Puebla a Aparecida aparece sempre com mais destaque uma Cristologia do rosto de Jesus sofredor. O relacionamento de Jesus com as mulheres também adquire destaque. A perspectiva Trinitária e pneumatologica vai crescendo com o decorrer das Conferências. O autor menciona ainda a ausência de uma leitura Trinitária do mistério pascal e que a pessoa do Espírito Santo ocupa sempre o ultimo lugar nas referencias. "Nota-se no desenrolar das Conferencias uma progressiva espiritualização do conceito de libertação. Se em Medellín e Puebla se sublinhava a necessidade de libertação dos males concretos (injustiça, opressão, miséria...) ao lado da libertação do pecado, raiz de toda forma de opressão, a partir de Santo Domingo aparece a tendência a esquecer a urgência de libertação dos males históricos", afirma o autor.
A presidente da banca examinadora foi a espanhola Maria del Carmem Aparício Valls, doutora em teologia pela Universidade Gregoriana e professora na mesma universidade. O primeiro moderador foi o jesuíta alemão Donath Hercsik que estudou filosofia e teologia em Mônaco da Baviera, Frankfurt e Paris. Desde 2001 ele é professor de teologia dogmática e fundamental na Pontifícia Universidade Gregoriana e decano da Faculdade de Teologia desde 2008. Hercsik disse se tratar de uma tese "clara, límpida e convincente tanto do ponto de vista formal como material". "O estudo deixa antever a crescente consciência do papel soteriologico de Jesus Cristo", disse ele. O moderador salientou a criatividade de Parise ao idealizar metáforas que ajudam a uma maior aproximação do texto referindo-se a "Rio de Janeiro como um trabalho de um paleontólogo, Medellín de um arqueólogo, Puebla como uma câmara filmadora, Santo Domingo como uma arvore e Aparecida similar a um quadro de pintura".
O segundo moderador foi o teólogo espanhol e sacerdote da diocese de Barcelona Salvador Pié-Ninot. Ele participou como especialista na preparação do Sínodo sobre os Leigos, de 1987, do quarto Simpósio luterano-católico em 1988 e da XII Assembléia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, sobre "A Palavra de Deus na vida e na missão Igreja", em 2008. Salvador mencionou a originalidade da apresentação e o "trabalho analítico atento as questões teológicas e moderadamente crítico, trabalho de primeira qualidade". "Não é apenas uma tese acumulativa, mas também um trabalho propositivo" acrescentou o professor.
Após a apresentação da tese o P. Paolo Parise, que em breve retorna ao Brasil, em entrevista, falou sobre o conteúdo principal da sua tese. Confira.
Fonte: Revista Missões - Arlindo Pereira Dias, Roma