Eucaristia, presença de amor

João Braz de Aviz *

"...Fazei isto em minha memória"

O Livro do Gênesis nos mostra a figura de Melquisedec, rei e sacerdote. Nós olhamos para este personagem singular, a partir de nosso encontro com Jesus Cristo. Entre Melquisedec e Jesus há uma distância de tempo de 2.000 anos. Melquisedec é um personagem original, diferente, que aparece no Livro do Gênesis de modo breve e misterioso. É rei de Jerusalém, segundo a tradição judaica e muitos dos Padres da Igreja. A Carta aos Hebreus liga a figura de Melquisedec ao sacerdócio de Jesus Cristo. Ele não oferece sacrifícios de animais, como faziam os sacerdotes do Antigo Testamento, mas oferece pão e vinho, como fez Jesus na última ceia. Ele é maior que Abraão, o pai de todo o povo hebreu, pois este lhe oferece o dízimo. Desse modo podemos ver na figura de Melquisedec a figura de Jesus Cristo. Nele se preanuncia misteriosamente o sacrifício de Jesus, antecipado na última ceia pela celebração da Eucaristia.

O apóstolo Paulo não esteve presente na última ceia, como os 12 apóstolos, de quem recebemos o testemunho ocular deste acontecimento, vivido por eles ao lado de Jesus. Mas é Paulo quem nos oferece o testemunho escrito mais antigo sobre a Santíssima Eucaristia: " O que eu recebi do Senhor foi isso que eu vos transmiti: na noite em que foi entregue, o Senhor Jesus tomou o pão, e depois de dar graças, partiu-o e disse : "isto é meu corpo, que é dado por vós. Fazei isto em minha memória". Do mesmo modo, depois da ceia, tomou também o cálice e disse: "este cálice é a nova aliança, em meu sangue. Todas as vezes que dele beberdes, fazei isto em minha memória". Todas as vezes , de fato, que comerdes deste pão e beberdes deste cálice, estareis proclamando a morte do Senhor, até que ele venha" (1 Cor 11, 23-26).

Na quinta-feira santa nós revivemos todos os anos, dentro das celebrações da Semana Santa, o momento em que Jesus instituiu o Sacramento da Eucaristia. Isto aconteceu dentro de uma ceia, acompanhada do significativo gesto do lava-pés e do mandamento novo, que Jesus chamou "o seu mandamento". Na Solenidade de Corpus Christi, desde o século XIII, a Igreja, cheia de alegria e gratidão, celebra a Eucaristia em praça pública e a leva pelas ruas da cidade.

Há cinqüenta anos, no dia 03 de maio de 1957, foi plantada a cruz de Cristo no lugar onde se iniciava a construção de nossa capital federal. Ali, naquele mesmo dia, foi celebrada a Santa Missa, como primeiro ato público da construção de Brasília, ficando claro para os filhos desta amada cidade e do nosso país, o lugar do mistério eucarístico no coração do povo brasileiro e dos brasilienses.

* Dom João Braz de Aviz, Arcebispo de Brasília.

Fonte: www.cen2010.org.br

Deixe uma resposta

16 − 13 =