Jaime Carlos Patias *
"O sacerdote e a pastoral no mundo digital: os novos meios a serviço da Palavra" é o tema escolhido por Bento XVI para o Dia Mundial das Comunicações Sociais de 2010. A missão da Igreja é comunicar a Palavra, ad intra e ad extra (dentro e fora) na proximidade de Deus com as pessoas e culturas, das pessoas com Deus e das pessoas entre si. A Evangelização é parte constitutiva da missão da Igreja, enviada por Cristo ao mundo para anunciar a Boa Notícia a toda criatura (cf. Mc 16, 15). A mensagem pela 44ª Jornada Mundial das Comunicações Sociais traz a data de 24 de janeiro, Festa de São Francisco de Sales, e convida de modo particular, os sacerdotes, no Ano Sacerdotal e depois da celebração da 12ª Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, a "considerar os novos meios como um poderoso recurso para seu ministério a serviço da Palavra e quer dirigir uma palavra de alento para enfrentar os desafios derivados da nova cultura digital".
O papel principal do sacerdote é anunciar a Palavra de Deus que se fez carne, história, tornando-se, de tal modo, sinal desta comunhão que Deus realiza com a humanidade. A eficácia deste ministério requer, contudo, que o sacerdote viva uma relação íntima com Deus, radicalizando-se num amor profundo e numa consciência viva das Sagradas Escrituras, "testemunho" em forma escrita da Palavra divina. Conforme percebemos, o centro e o conteúdo da comunicação não é o sacerdote ou o agente de pastoral, mas a Palavra encarnada, Jesus Cristo. Isso serve como um alerta para os adeptos do marketing católico, que buscam a todo o custo construir a imagem do padre "garoto propaganda", de produtos da fé ofuscando o essencial: o Evangelho.
Tecnologias indispensáveis
As novas tecnologias do mundo moderno já se tornaram indispensáveis para a Evangelização. Ao longo da história, mais do que dar um juízo sobre os meios de comunicação social, a Igreja vem procurando utilizá-los a seu favor, no serviço de evangelização e formação. De fato, na Missão, não podemos ficar alheios às modernas técnicas e aos meios, mas, devemos aprender a utilizá-los com efiência e responsabilidade.
O Concílio Vaticano II, no Decreto Ad Gentes já havia considerado os meios de comunicação social indispensáveis na Evangelização. "Para que todos os fiéis conheçam perfeitamente a situação atual da Igreja no mundo e ouçam a voz das multidões gritando: ‘Ajuda-nos', forneçam-se notícias missionárias, também mediante os meios modernos de comunicação social, de forma que, sentindo sua atividade missionária, abram o coração à tão imensa e profunda necessidade dos homens e a elas possam socorrer" (AG 36).
Diante do mandato de anunciar, na mensagem deste ano, Bento XVI retoma a temática da Encíclica Redemptoris Missio de João Paulo II (1990), resgatando a preocupação do grande comunicador Paulo de Tarso que anunciou não a si mesmo, mas o verdadeiro conteúdo da Escritura, que diz: "Todo aquele que acreditar no Senhor não será confundido". (...) Portanto, todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo. Mas como hão de invocar Aquele em quem não acreditam? E como hão de acreditar n'Aquele de quem não ouviram falar? E como hão de ouvir falar, se não houver quem lhes pregue? E como hão de pregar, se não forem enviados?" (Rm 10, 11.13-15).
O papa convocou toda a Igreja a olhar a rede mundial de computadores com entusiasmo e audácia, exortando os sacerdotes a navegar na internet e levar a Palavra de Deus ao grande "continente digital": "Ora, aos presbíteros é pedida a capacidade de estarem presentes no mundo digital em constante fidelidade à mensagem evangélica, para desempenharem o próprio papel de animadores de comunidades, que hoje se exprime cada vez mais frequentemente através das muitas "vozes" que surgem do mundo digital, e anunciar o Evangelho recorrendo não só aos meios tradicionais, mas também ao contributo da nova geração de audiovisuais (fotografia, vídeo, animações, blogs, páginas da internet) que representam ocasiões inéditas de diálogo e meios úteis inclusive para a evangelização e a catequese".
Ressalvando os limites das novas mídias, na mensagem Bento XVI dá o seu "juízo positivo" do mundo digital. O fluxo comunicativo da rede pode alcançar os não-cristãos e contribuir para a Missão Ad Gentes. "Do mesmo modo que o profeta Isaías chegou a imaginar uma casa de oração para todos os povos (cf. Is 56, 7), não se poderá porventura prever que a internet possa dar espaço - como o "pátio dos gentios" do Templo de Jerusalém - também àqueles para quem Deus é ainda um desconhecido?", questiona o papa.
Responsabilidade do clero
A mensagem convida os sacerdotes a assumirem a responsabilidade diante do seu ministério quando pergunta: "quem melhor do que um homem de Deus poderá desenvolver e pôr em prática, mediante as próprias competências no âmbito dos novos meios digitais, uma pastoral que torne Deus vivo e atual na realidade de hoje e apresente a sabedoria religiosa do passado como riqueza donde haurir para se viver dignamente o tempo presente e construir adequadamente o futuro?" Contudo, os sacerdotes não precisam ser protagonistas na parte técnica, mas, animar e trabalhar em comunhão com profissionais leigos comprometidos. "No impacto com o mundo digital, mais do que a mão do operador dos meios, o presbítero deve fazer transparecer o seu coração de consagrado, para dar uma alma não só ao seu serviço pastoral, mas também ao fluxo comunicativo ininterrupto da rede".
Nesse sentido acreditamos que um dos maiores desafios para o clero e os seminaristas nas casas de formação é, diante do amplo acesso à internet, utilizá-la em todo o seu potencial, evitando que esse meio moderno se torne apenas um instrumento de relacionamento e diversão, sem uma verdadeira e eficaz serventia à evangelização. Conforme afirma o comunicado, "a tarefa de quem opera, como consagrado, nas mídias é aplanar a estrada para novos encontros, assegurando sempre a qualidade do contato humano e a atenção às pessoas e às suas verdadeiras necessidades espirituais; oferecendo, a quem vive nesta nossa era ‘digital', os sinais necessários para reconhecerem o Senhor; dando-lhes a oportunidade de se educarem para a expectativa e a esperança, abeirando-se da Palavra de Deus que salva e favorece o desenvolvimento humano integral. A Palavra poderá assim fazer-se ao largo no meio das numerosas encruzilhadas criadas pelo denso emaranhado das auto-estradas que sulcam o ciberespaço e afirmar o direito de cidadania de Deus em todas as épocas, a fim de que, através das novas formas de comunicação, Ele possa passar pelas ruas das cidades e deter-se no limiar das casas e dos corações, fazendo ouvir de novo a sua voz: Eu estou à porta e chamo. Se alguém ouvir a minha voz e me abrir a porta, entrarei em sua casa, cearei com ele e ele comigo (Ap 3, 20)".
Numa perspectiva universal, o Sumo Pontífice ressalta ainda que "os novos meios oferecem aos presbíteros perspectivas sempre novas e, pastoralmente, ilimitadas, que os solicitam a valorizar a dimensão universal da Igreja para uma comunhão ampla e concreta; a ser no mundo de hoje testemunhas da vida sempre nova, gerada pela escuta do Evangelho de Jesus, o Filho eterno que veio ao nosso meio para nos salvar". Por fim a mensagem também recorda que "a fecundidade do ministério sacerdotal deriva primariamente de Cristo encontrado e escutado na oração, anunciado com a pregação e o testemunho da vida, conhecido, amado e celebrado nos sacramentos, sobretudo, da Santíssima Eucaristia e da Reconciliação".
Em suma, a reflexão do papa reforça um sábio desejo da Igreja com relação ao uso dos meios de comunicação, que na prática ainda é muito tímido, principalmente pela falta de investimento de recursos e profissionais qualificados para atuar no interior das comunidades e instituições.
Novas Tecnologias
Em 2009, o Dia Mundial das Comunicações Sociais foi dedicado ao tema "Novas tecnologias, novas relações. Promover uma cultura de respeito, de diálogo, de amizade".
Em sua mensagem para aquela ocasião, o papa convidava "todos os que empregam as novas tecnologias da comunicação, em especial os jovens, a utilizá-las de uma maneira positiva e a compreender o grande potencial desses meios para construir laços de amizade e solidariedade que possam contribuir para um mundo melhor".
O Dia Mundial das Comunicações Sociais, a única celebração mundial estabelecida pelo Concílio Vaticano II (Inter Mirifica, 1963), está marcada na maioria dos países, por indicação do episcopado mundial, para o domingo anterior a Pentecostes, na festa da Ascensão do Senhor, este ano 16 de maio. Em geral, o anúncio do tema é divulgado no dia 29 de setembro, festa dos Arcanjos São Miguel, São Rafael e São Gabriel, o qual foi designado patrono dos radialistas. A Mensagem do Santo Padre para o Dia Mundial das Comunicações Sociais é publicada tradicionalmente em coincidência com a memória de São Francisco de Sales, patrono dos jornalistas (24 de janeiro), para permitir que as Conferências Episcopais, a Pastoral da Comunicação e as organizações que se ocupam de comunicação social tenham tempo suficiente para preparar subsídios audiovisuais e outros materiais destinados aos estudos e celebrações nacionais e locais.
* Jaime Carlos Patias, imc, é mestre em comunicação e diretor da revista Missões.
Publicado na edição Nº04 - Maio 2010 - Revista Missões.
Fonte: Revista Missões