Jaime Carlos Patias *
Estamos comemorando mais uma Semana dos Povos Indígenas (de 15 a 19 de abril). Repetidas vezes noticiamos as bandeiras levantadas pelos Povos Indígenas no Brasil, desde os Yanomamis, na Amazônia, que se defendem das doenças e levadas por invasores, até os Guarani Kaiowas, em Mato Grosso do Sul, empurrados para a beira da estrada há mais de 20 anos.
Conhecedores de pelo menos 180 línguas, com culturas e modos de vida distintos, os 231 povos indígenas que vivem no Brasil, são atores políticos capazes de apresentar propostas e dialogar com o poder público. Um símbolo disto tem sido a realização do Acampamento Terra Livre, desde 2004, na Esplanada dos Ministérios, em Brasília. No passado, o 19 de abril foi celebrado, sobretudo nas escolas, como o dia em que as crianças se pintavam com tintas coloridas e vestiam colares de penas. Nos últimos anos, o movimento indígena tem conseguido mudar o sentido desta data com a Semana dos Povos Indígenas. Entre os dias 15 e 19 de abril, os indígenas da Raposa Serra do Sol comemoram a homologação definitiva de suas terras. Existem muitas outras conquistas a serem lembradas, mesmo assim, das 850 terras indígenas (TIs) existentes no Brasil menos da metade (48,95%) tiveram sua demarcação concluída. Em 216 delas, nenhuma providência foi tomada e apenas 49 foram homologadas. É bom lembrar que a Constituição de 1988, no artigo 231, estabeleceu o dia 5 de outubro de 1993 como prazo para a demarcação de todas as TIs no país. Onde as terras não estão demarcadas, os povos são privados de outros direitos básicos, como a preservação da cultura, alimentação, educação e segurança. As conseqüências disso são visíveis de norte a sul, inclusive no Pico do Jaraguá, zona oeste da cidade de São Paulo, onde 80 famílias Guaranis esperam, há décadas, pela demarcação de apenas 2,7 hectares de terra.
A nefasta política macroeconômica neoliberal, a serviço das grandes corporações transnacionais que se abate sobre os povos, busca o controle total dos territórios de camponeses e indígenas e dos recursos naturais ameaçando os direitos e a vida das populações. O avanço do desmatamento praticado por fazendeiros, grileiros e madeireiros na Amazônia ameaça aos mais de 60 povos que se encontram em situação de isolamento. As obras do Programa de Aceleração do Crescimento - PAC, do governo brasileiro, em nome do desenvolvimento, contribui para esse triste cenário.
Em pleno século XXI, cresce a violência, o racismo e o preconceito contra os povos indígenas, com características de genocídio. Dando visibilidade às causas dos Povos Indígenas reafirmamos nosso compromisso na defesa da vida inspirados pela mística da missão de Jesus Cristo e seu Evangelho.
* Jaime Carlos Patias,imc, mestre em comunicação e diretor da revista Missões.
Fonte: Revista Missões