Visita de Lula a Israel

José Oscar Beozzo *

A Folha ofereceu neste domingo duas entrevistas a respeito da conturbada situação em Israel e nos territórios por ele ocupados: uma com Dorit Shavit, diretora para a América Latina do Ministério das Relações Exteriores de Israel e outra com Nabil Shaath, que foi o primeiro chancelar da Autoridade Nacional Palestina (ANP).

Dorit Shavit disse que alertaria Lula de que o Irã desenvolve "não só um programa nuclear, mas armas atômicas" e que "se obtiverem armas atômicas, ameaçarão todo o Oriente Médio e o mundo, porque terá início uma corrida armamentista regional".

Não ocorreu à Folha perguntar à Dorit Shavit se as armas atômicas que Israel desenvolveu e introduziu no Oriente Médio (segundo especialistas Israel teria cerca de 300 ogivas nucleares operacionais) não constituem nenhuma ameaça aos seus vizinhos, nem estão provocando corrida armamentista regional?

Não ocorreu também à Folha perguntar a Dorit Shavit por que Israel não é signatário do Tratado de Não Proliferação Nuclear ratificado por 187 países em todo o mundo, inclusive o Irã?

Não ocorreu igualmente ao repórter da Folha perguntar por que não aceita Israel que suas instalações nucleares de Dimona no deserto do Neguev sejam inspecionadas pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA)? Nem por que o Conselho de Segurança da ONU jamais ameaça Israel, por não submeter seu programa nuclear à inspeção internacional? A AIEA inspeciona regularmente as instalações do Irã!

A entrevista parece mais um "press-release" do Ministério das Relações Exteriores de Israel do que a pauta de um jornal interessado em esclarecer seus leitores acerca do complexo jogo de interesses e de poder no Oriente Médio.

Esclareço que sou formalmente contra o desenvolvimento de armas nucleares por parte do Irã, como por parte de Israel, Estados Unidos, Rússia, Grã Bretanha, França, China, Índia, Paquistão, Coréia do Norte ou qualquer outro país e não apenas contra esse procedimento por parte do Irã ou da Coréia do Norte, que monopolizam hipocritamente a execração por parte dos países que desenvolveram armas nucleares, seguidos em sua posição por boa parte da mídia, como se viu na reportagem da Folha de São Paulo.

* Coordenador geral do Cesep (Centro Ecumênico de Serviços à Evangelização e Educação Popular). Vigário da Paróquia São Benedito em Lins. Membro e ex-presidente do Cehila (Comissão de Estudos da História da Igreja no Brasil e na América Latina)

 

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