44, 42 ou 40 horas semanais de trabalho?

Waldemar Rossi *

No último mês de fevereiro entrou em pauta no Congresso Nacional o debate sobre a reivindicação das centrais sindicais de redução da jornada de trabalho de 44 para 40 horas semanais. Pressionado pela bancada patronal, o presidente da Câmara dos deputados, Michel Temer, fez sua jogada demagógica, que no dito popular pode ser traduzido como "nem tanto a Deus, nem tanto ao diabo": propôs 42 horas.

Afinal, se o Temer ficar com a pressão patronal não terá os votos dos trabalhadores e se ficar com os sindicalistas não terá o dinheiro sujo do patronato. Que encruzilhada! Tentar o meio de campo para ficar de bem com os dois lados. Mas nem tanto porque empresário não abre mão dos seus lucros exorbitantes. E a votação da proposta no Congresso foi jogada pras calendas.

Entretanto, o que mais chamou a atenção de quem acompanhou parte desse debate foram as alegações dos patrões. Argumentam que as despesas com um trabalhador contratado com carteira assinada no Brasil são das mais altas do mundo. Segundo o economista patronal José Partos, essa despesa chega a 102% do salário pago, mais alto que na França (72%) e nos Estados Unidos.

Tais argumentos chamam a atenção porque, mesmo sendo falsos, são capazes de iludir os menos informados. Falar que os encargos trabalhistas são os mais caros do mundo pode não ser mentira se consideramos percentuais de números frios e abstratos. Tudo muda de figura quando se comparam realidades concretas, sobretudo quando se comparam lucros.

Depois desse embate circularam pela imprensa, em comentários quase que escondidos, informes sobre os salários na Europa e Estados Unidos revelando que os trabalhadores dos países europeus ganham em média três vezes mais que um trabalhador especializado no Brasil. Não é diferente em relação aos EUA, onde a disparidade salarial pode chegar a cinco vezes, em média.

Façamos, então, a título de teste, algumas simples operações matemáticas.Salário de trabalhador europeu de R$ 5.000,00. Sobre ele se aplica os 72% citados pelo José Partos. Teremos um acréscimo de R$ 3.600,00. Custo desse trabalhador: R$ 8.600,00.

No caso do Brasil - respeitando-se as diferenças aproximadamente constatadas -, salário de R$ 1.500,00 e encargos de 102% também citados, teremos um acréscimo de R$1.530,00. Custo do trabalhador brasileiro: R$ 3.030,00.

Como se vê, "nem tudo o que reluz é ouro" e meias verdades podem se tornar verdades absolutas enganando os incautos ou mesmo os que têm preguiça de pensar e se deixam levar pela publicidade enganosa.

A grande verdade está em que o patronato brasileiro é muito mais ganancioso e imediatista que os empresários dos países mais desenvolvidos. Como o Brasil é o "paraíso dos investidores", porque dá lucro fácil e imediato, nossos empresários querem enriquecer rapidamente e sem limites.

Analisemos outro caso concreto divulgado hoje (11/03/10) pela imprensa burguesa em letras garrafais: EIKE BATISTA É O 8º MAIS RICO DO MUNDO (Eike Batista é empresário brasileiro). Segundo o Estadão, Eike teve sua fortuna aumentada em "generosos" R$ 19,5 bilhões em apenas pouco mais de um ano. Fica a pergunta: de onde veio essa fortuna se não da exploração dos seus trabalhadores? A imprensa não revelou qual é o padrão de vida dos trabalhadores de suas empresas. Aumentou na mesma proporção?

O mesmo jornal revela ainda uma lista com os outros 17 empresários brasileiros mais ricos do mundo, cujas fortunas pessoais crescem a cada dia. Esse dinheiro todo cai do céu?

Assim, querer barrar as 40 horas semanais nada mais é que negar minimamente algum tempo de descanso aos que produzem suas riquezas, é querer manter abaixo da linha da pobreza a imensa maioria da população brasileira. É determinação de não ceder sequer alguns anéis aos que empregam seus dedos e seus corpos inteiros para produzir riquezas e mais riquezas.

Para agravar ainda mais essa já lamentável situação vimos a frouxa postura dos dirigentes das centrais sindicais e do deputado Michel Temer, que se submeteram à chantagem patronal, jogando para 2013 a possível abertura desse mesmo debate, fato que reforça a tese de um dos empresários de que essa discussão só foi aberta porque estamos em ano eleitoral. Alguém duvida?

* Waldemar Rossi é metalúrgico aposentado.

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