Jaime Carlos Patias*
Estamos no ano da biodiversidade e da aproximação das culturas. A paz depende da convivência entre os seres humanos num mundo multi-étnico e pluricultural. Onde isso não acontece, a violência se intensifica. Muitas são as iniciativas vindas de vários setores da sociedade para enfrentar a violência. As respostas para esse fenômeno têm se mostrado múltiplas, abrangendo uma gama de medidas, nos mais diversos níveis. Contudo, temos a sensação de que não avançamos. Sempre que surgem atos de violência, as discussões sobre o tema se intensificam. Aos poucos, tudo se acalma e quase não se fala mais no assunto até a próxima crise estourar. Normalmente, procuramos combater os frutos sem ir à raiz mais profunda. Hoje, com tanta midiatização, a violência tornou-se um espetáculo que alimenta os noticiários, sendo cada vez mais banalizada.
No Brasil, em 2005, o Estatuto do Desarmamento e o Referendo sobre a comercialização de armas de fogo e munição suscitaram calorosas discussões. No Referendo ganhou o "não", ou seja, a cultura do medo, com 64% dos votos. Como entender essa ambiguidade? O fim da violência e das balas perdidas não se limita a um referendo, mas poderia ter sido o início de um processo de implantação da cultura de paz. Uma segunda edição da Campanha de entrega voluntária de armas em curso na cidade de São Paulo destruiu, em novembro de 2009, cerca de 2.800 armas.
Em março de 2007, uma pesquisa do Datafolha revelou que a violência passou o desemprego como principal preocupação dos brasileiros, sendo os adolescentes e jovens as suas maiores vítimas. Como resposta, as Pastorais da Juventude lançaram, no dia 28 de novembro de 2009, durante o 7º Encontro Nacional de Fé e Política, em Ipatinga - MG, a Campanha Nacional Contra a Violência e o Extermínio de Jovens. Este é mais um fato positivo e mostra a capacidade de reação da juventude. Para 2010 várias iniciativas são previstas pela Campanha, como a realização de seminários estaduais e marchas locais no primeiro semestre e a construção de uma grande marcha nacional que está prevista para o segundo semestre de 2011.
Acabamos de acompanhar uma vasta programação do Fórum Social Mundial 10 Anos, que aconteceu de 25 a 29 de janeiro, em sete cidades da região Metropolitana de Porto Alegre, RS. Na sua 10ª Edição, o Fórum Grande Porto Alegre reuniu cerca de 35 mil pessoas para debater não só a experiência passada do Fórum, mas principalmente seu futuro como alternativa para um outro mundo possível.
Ainda em Porto Alegre, entre os dias 03 e 07 de fevereiro acontece o III Mutirão Latino Americano e Caribenho de Comunicação. O objetivo do Muticom é criar espaços de diálogo sobre os processos de comunicação à luz da cultura solidária, na construção de uma sociedade comprometida com a justiça, a liberdade e a paz. Comunicadoras e comunicadores, profissionais da mídia, estudantes, docentes e pesquisadores vindos de 37 países latinos e caribenhos estão reunidos na PUC-RS, em Porto Alegre.
Em breve será lançada a Campanha da Fraternidade Ecumênica 2010 que aborda o tema "Economia e Vida" e tem por objetivo promover uma economia a serviço da vida, fundamentada no ideal da cultura de paz. É mais uma iniciativa reunindo esforços das Igrejas cristãs e pessoas de boa vontade, contribuindo para a construção do bem comum em vista de uma sociedade sem exclusão. Se as religiões e igrejas não trabalharem unidas num diálogo franco e construtivo, nossa paz está ameaçada e nosso destino comprometido. As religiões no seu testemunho comum motivam um re-encantamento com o mistério da vida e a integridade do planeta nossa casa comum. A paz é fruto da justiça e uma economia solidária a serviço da vida torna-se indispensável para evitar a exclusão no mundo plural.
O mundo vive numa certa ambiguidade: a realidade, por um lado, vem marcada por conflitos; e, por outro, vem perpassada por ordem e paz. O desafio consiste em manter a tensão, buscando aquela convergência de energias que permitem o surgimento da paz , fruto de instituições minimamente justas, amparadas por um Estado que zela pelo equilíbrio e garanta a convivência entre os seres humanos. A cultura de paz depende da cooperação, solidariedade, amor e da vigilância que as pessoas e as instituições mantiverem sobre a outra dimensão, igualmente presente, de rivalidade, de egoísmo e de exclusão.
Jaime Carlos Patias, diretor da revista Missões, mestre em Comunicação.