Cardeal Odilo Pedro Scherer *
No próximo domimgo, dia 04 de outubro, o papa Bento XVI abrirá, em Roma, a 2ª. Assembléia Especial do Sínodo dos bispos para a África; os trabalhos se estenderão por três semanas, até o dia 25 de outubro, e terão a participação expressiva de 33 cardeais, 79 arcebispos e 156 bispos; também estarão presentes 29 peritos, 49 convidados especiais, como "ouvintes", e 5 "delegados fraternos", representando outras Igrejas cristãs não-católicas. Evidentemente, a maioria absoluta dos membros da Assembléia Sinodal serão bispos dos países africanos; mas, entre outros convidados de fora do Continente africano, também estarão presentes 2 bispos brasileiros, D.Raymundo Damasceno Assis, arcebispo de Aparecida e presidente do CELAM, e D.Benedito Beni dos Santos, representando os bispos afro-descententes de nosso país.
É pela 2ª. vez que acontece uma Assembléia Especial do Sínodo dos Bispos para a África; a outra foi em 1994, no contexto da preparação do Grande Jubileu do 2º. Milênio do nascimento de Jesus Cristo. Na Exortação Apostólica pós-sinodal - Ecclesia in Africa -, publicada em setembro de 1995, o papa João Paulo II apresentava a história da evangelização do Continente Africano na ótica da esperança: "Deus quer salvar a África", recordava o Papa, mostrando como essa já esteve presente na história de Jesus e dos apóstolos, bem como na primeira evangelização, feita ainda na era apostólica. A África está no desígnio da Providência divina e, por isso, a Igreja precisa ser presença missionária ativa em meio aos povos africanos, a serviço do projeto salvador de Deus e do seu reino (cf. n. 27-29).
Passados 15 anos daquela esperançosa Assembléia Especial, agora a Igreja da África está reunida novamente em torno do Sucessor de Pedro, convocada por ele, para refletir sobre o tema: "A Igreja na África, a serviço da reconciliação, da justiça e da paz". O tema é muito significativo e coloca em evidência uma preocupação: as guerras, as lutas tribais e religiosas em curso naquele Continente, as injustiças sociais, a pobreza de grande parte da população, as doenças endêmicas, a fome, as discriminações raciais e as feridas, ainda abertas, de longas guerras civis e até a chaga da escravidão, ainda persistente em algumas partes, interpelam a missão da Igreja no meio daqueles povos.
Em muitos lugares, trata-se de uma presença ainda bem pequena, ao lado das religiões originárias, o islamismo e outros grupos cristãos. Uma presença missionária mantida, geralmente, pela Congregação para a Evangelização dos Povos, em meio a muitas dificuldades; mas é um catolicismo florescente e jovial, de muitas vocações e intensa participação laical. No Sínodo, a Igreja na África se propõe a ser, no seu conjunto, em cada uma de suas comunidades locais e cada um de seus membros, uma promotora da reconciliação, da justiça e da paz entre aqueles povos.
O lema - "vós sois o sal da terra; vós sois a luz do mundo" (Mt 5,13.14) - coloca isso bem em evidência. A Igreja tem a missão de anunciar o Evangelho como Boa Nova do amor e da paz aos povos; e o faz tanto nas suas liturgias, como também na ação social e caritativa em relação aos "últimos" da sociedade; e não por último, pela promoção do diálogo paciente entre as partes em conflito, para alcançar a reconciliação, a justiça e a paz na convivência.
"Deixai-vos reconciliar com Deus", exortava S.Paulo aos Coríntios (2Cor 5,20). A reconciliação sincera com Deus também tornará possível a reconciliação com os irmãos e a superação de dificuldades que, humanamente, pareceriam insuperáveis, para uma convivência pacífica. A Igreja missionária não vai com sua própria força e argumentação, mas anuncia Jesus Cristo, o "príncipe da paz"; Ele abateu toda inimizade, unindo os povos divididos (cf Ef 22,14). Os cristãos são chamados a serem operadores de paz e o Sínodo da África deseja recordar e assumir isso de modo muito concreto e eficaz.
* arcebispo de São Paulo