Financiamento da mídia católica: problema urgente

Jesús Colina

Do seu observatório privilegiado, Daniela Frank, diretora executiva do Conselho Católico de Meios de Comunicação (CAMECO), pode compreender como poucos os desafios que a Igreja Católica tem neste momento, na era da comunicação.

O CAMECO, com sede em Aquisgran (Aachen, Alemanha), é um escritório de consulta e assessoria no campo das comunicações para a África, América Latina, Ásia, Pacífico e Europa do Leste.

O conselho presta seu serviço há 40 anos, assessorando diretamente os encarregados de projetos de comunicação e colaborando com as agências de cooperação da Igreja na Europa e América do Norte, que oferecem ajuda a meios de comunicação.

Daniela Frank faz um balanço e traça perspectivas nesta entrevista concedida a Zenit em Roma, por ocasião de sua participação na assembleia plenária do Conselho Pontifício para as Comunicações Sociais, do qual é consultora.

--Vocês analisam centenas de projetos de comunicação católicos. Você poderia nos dizer qual é o "pecado original" da mídia católica, do ponto de vista profissional e ético? Por que,,no cenário mundial - na televisão por exemplo -, hoje não existe um grande meio de comunicação católico, apesar de que haja uma audiência potencial de milhões de pessoas?

--Daniela Frank: É muito difícil ter uma resposta que cubra a grande diversidade das realidades da mídia católica em contextos tão diversos, como África, América Latina, Ásia ou Europa do Leste. Um problema me parece ser que muitos responsáveis subestimam o dinamismo, a complexidade e o profissionalismo do mundo das comunicações, no qual também a mídia católica tem de mover-se e competir.

Já não basta o simples "ser católico" para atrair (e manter) o público. Inclusive as audiências que têm interesse nas posições da Igreja, que querem ver e escutar programas religiosos ou as mensagens que surgem da doutrina social da Igreja e que compartilham nossa visão do ser humano, procuram programas atrativos e interessantes, que sejam capazes de competir com os produtos profissionais de muitos meios comerciais.

Não basta a boa vontade do sacerdote ou de leigos comprometidos para gestionar e sustentar uma revista, uma rádio ou uma emissora de televisão católica. Fazer comunicação é uma tarefa profissional e por isso temos de aumentar nossas capacidades para poder oferecer o que é nosso de forma atrativa.

Outro "perigo" nas comunicações católicas, segundo nosso parecer, é que pensamos mais em "meios" que em "comunicação". Com frequência, o importante é estabelecer e ter um meio próprio, uma editora, uma rádio, um canal de televisão... e só depois se pensa em programas, no financiamento das operações, na capacitação da equipe. Ao invés disso, poder-se-ia refletir primeiro sobre os destinatários com os quais queremos nos comunicar e os conteúdos que poderiam atraí-los, e depois definir os canais e formatos mais adequados. Pensar mais estrategicamente continua sendo um grande desafio para nós, comunicadores católicos.

--Um problema importante dos meios de comunicação católicos é o autofinanciamento. Uma informação religiosa não é a mesma coisa que uma informação econômica, esportiva ou de entretenimento. No segundo caso, é mais fácil pagar por utilizar ou desfrutar. Existe uma solução para este problema?

--Daniela Frank: O financiamento das comunicações católicas é um tema urgente no mundo inteiro. Para os meios eletrônicos, publicidade é quase a única maneira para gerar ingressos significativos, uma opção que com frequência os superiores eclesiais rejeitam ou que (em vários países) a lei não permite.

Outra opção são as doações individuais ou - para os meios no Sul ou em partes da Europa do Leste - subsídios pontuais por parte das agências de cooperação. Também há dioceses que dedicam uma parte do seu orçamento à rádio ou a outros meios de comunicação diocesanos porque têm um papel pastoral essencial.

Sem dúvida, sustentar um meio de comunicação católico é um desafio enorme para crescer em "responsabilidade compartilhada", uma responsabilidade que inclui a hierarquia local, os fiéis e outros que se identificam com este meio. Não há soluções fáceis ou que funcionam em qualquer contexto. Mas podemos observar que iniciativas com produções criativas, grupos destinatários bem definidos e bases sociais sólidas enfrentam este desafio mais facilmente. Temos de ser mais criativos, temos de crescer em compromisso (que só é possível se estivermos convencidos de que nosso meio realmente oferece um serviço importante e qualificado) e temos de livrar-nos dos preconceitos contra o mundo comercial. Podemos aprender muito dos meios comerciais de êxito sem simplesmente copiar suas operações.

--Em países em vias de desenvolvimento, há muitas iniciativas de comunicação católicas e poucos meios. Estas realidades podem aproveitar sua atividade profissional de conselho e ajuda? Como?

--Daniela Frank: Assessorar as igrejas locais da África, América Latina, Ásia e Europa do Leste é, de fato, a razão de ser do CAMECO. Ele foi fundado há 40 anos para apoiar as agências de cooperação da Europa Ocidental e da América do Norte em sua tomada de decisões sobre solicitudes de iniciativas de comunicação. E a margem de projetos inclui quase toda a diversidade de comunicações, desde teatro de fantoches até sites e televisão por satélite.

Entretanto, assessoramos cerca de 500 projetos por ano e mais de 40% nos enviam diretamente encarregados de projetos que procuram nosso apoio no planejamento estratégico de suas iniciativas, em consultorias sobre o desenvolvimento organizacional, na capacitação das suas equipes ou na coordenação de assessorias e avaliação in situ. Muitos contatos se realizam sobretudo por correio eletrônico ou Skype, mas também visitamos projetos ou - no caso da necessidade de uma consultoria mais ampla e detalhada - procuramos especialistas que possam oferecer oficinas correspondentes e acompanhar processos de mudança.

Cada encarregado de uma iniciativa de comunicação que quiser nos consultar pode contatar diretamente o CAMECO, por exemplo, através do e-mail. Para mais detalhes, nós os convidamos a consultar nosso site: www.cameco.org.

--Vivemos na era da sociedade de informação e comunicação, mas muitos pensam que a Igreja continua na era Gutenberg. A partir da sua experiência, como é possível fazer que bispos, sacerdotes, religiosos e leigos descubram a gravidade da situação?

--Daniela Frank: Apesar de tudo, há uma grande abertura para as mudanças no mundo das comunicações. Acho que, como Igreja, entramos, já há muitos anos, no mundo da comunicação audiovisual - rádio, vídeo, televisão. Na América Latina, desde os anos 50 e 60, em muitos países a Igreja foi uma das instituições mais ativas na rádio; em comparação, na África isso só aconteceu há cerca de 10 ou 15 anos. Há questões legais para estabelecer rádios da Igreja.

Fica muito claro que, na grande maioria das regiões do mundo, é preciso estar presente nos meios audiovisuais para comunicar-se com as pessoas, dado o analfabetismo, os problemas de transporte dos jornais impressos, as tradições orais etc. E a Igreja responde fortemente a esta situação, sem esquecer o papel dos meios escritos em várias culturas, para certos grupos de destinatários.

O grande desafio de hoje são os novos meios interativos, sobretudo a internet, e as perspectivas de interconectar vários canais, como rádio, televisão e sites. É preciso levar em consideração que os que são responsáveis pelas comunicações da Igreja não são "nativos digitais", mas, no melhor dos casos, "nativos migrantes", descobrindo, passo a passo, as dinâmicas das novas tecnologias.

Sempre há certo risco de que, diante de tudo isso, fiquemos "contra" tudo o que é novo, desconhecido, mas também há um crescente número de bispos que se movem facilmente neste mundo e, desta maneira, abrem as portas da Igreja para aproveitar todos os canais de comunicação para cumprir com nossa missão no mundo de hoje.

Mais informação em www.cameco.org

 

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