Papai e o homem na lua. Em homenagem aos papais no seu dia

Selvino Heck *

Quando, em 1969, quarenta anos atrás, o astronauta americano Neil Armstrong pisou na lua, todo mundo ficou fascinado pela conquista. Não era para menos. Pela primeira vez, depois de várias tentativas, o homem ultrapassava seus próprios limites, saía de seu mundinho chamado terra e ocupava o planeta estelar. Mesmo que fosse a lua, sem luz própria, mas que poetas e amantes cantavam em prosa e verso como símbolo do amor e da paixão dos enamorados.

Fui falar com papai Léo. Não lembro, mas deve ter sido em julho, quando eu, de férias, voltava para casa do Seminário de Taquari, onde, 1969, estava no último ano do colegial, e já cometia meus versos e textos publicados então no O Observador, jornal mural do qual eu era um dos principais incentivadores e até editor.

Papai me disse que não acreditava que o homem tivesse pisado na lua, que aquilo não era verdade. Como o homem ter pisado na lua? Como ter chegado lá? Quem garantia? Era tudo invenção, mentira dos americanos. (Aliás, tínhamos ligação antiga com ‘die Amerikaner'. Papai então plantava fumo - a região, Vale do Rio Pardo, Rio Grande do Sul, é grande plantadora ainda hoje. E a Souza Cruz -‘die Amerikaner' , não sei se papai falava com ironia ou desprezo - era a compradora da produção.)

Sei não. Hoje tenho consciência de que papai tinha lá seus argumentos fortes, mesmo que não soubesse da Guerra Fria, que os Estados Unidos da América e a URSS - União Soviética - travavam ferozmente naqueles tempos. Um queria estar sempre à frente do outro. Não era só uma questão de poder e de tecnologia, de saber quem estava mais adiantado, à frente do seu tempo, mas principalmente de ideologia. Imagina se os comunistas chegassem primeiro lá! URSS e Cuba iam tomar à frente no poder do mundo, na disputa ideológica, em tudo enfim. Os comunistas (pra nós, gente lá do interior eram todos comedores de criancinha), que já tinham chegado por primeiro ao espaço, ainda serem os primeiros a pôr os pés na romântica lua! Seria demais para os soberbos e poderosos americanos.

Agora, 40 anos depois, vejo, em meio às celebrações, muitos dizendo a mesma coisa que papai: que o homem não chegou na lua naquele momento, que é só olhar a sombra que o astronauta projeta - como ter sombra na lua? -, ou como explicar a bandeira americana tremulando se lá não tem vento. Dúvidas e mais dúvidas que a sabedoria de papai intuiu, talvez por outras razões, ou por descrença na capacidade humana, ou que estivessem afrontando Deus, mas...

E papai era homem de profunda fé. Cantava no coral da antiga igreja São Luiz de Santa Emília, Venâncio Aires, contribuía religiosamente com a comunidade, ‘bancou' seis dos sete filhos homens no Seminário e uma das filhas ficou religiosa, formou os nove filhos na fé, acordava a gente todos os domingos de manhã com fortes batidas na porta do quarto ("Ist schon next halb neun, Zeit for ufstaien und in die Andacht gehen - já é quase oito e meia, hora de ir pra devoção"; então, como ainda hoje, fala-se muito alemão). E ai de quem não obedecesse!

Nunca me esqueci dessa história do homem na lua e das perguntas de papai. Lá por Santa Emília, pequena comunidade de Venâncio Aires, interior do interior do Rio Grande do Sul, muita gente pensava a mesma coisa. Talvez não tivesse coragem de confessá-lo. Pra dizer a verdade, eu que tinha tanta certeza de que o homem de fato pisara na lua, hoje tenho lá minhas sérias dúvidas sobre o fato dito histórico. Vai que os americanos, como já fizeram em tantas outras coisas, enrolaram todo mundo e a gente acreditou...

* Assessor Especial do Presidente do Brasil

 

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