Maria Regina Canhos Vicentin *
Outro dia, li uma reportagem sobre alguns padres que estão se projetando na mídia como cantores. Fotos trabalhadas em demasia, pareciam artistas maquiados. Um deles afirmava que não eram os primeiros, já que Pe. Zezinho os havia precedido. Na hora, quase passei mal. Fiquei realmente irritada com a comparação. Nossa, pensei, o que o Pe. Zezinho tem a ver com esses padres "luz, câmera, holofotes"? São igualmente cantores, é bem verdade, mas ponderação e discernimento não fazem mal algum. Avalio que é sempre bom saber até onde se deve ir, pois a mídia acaba expondo demais a pessoa. Pode existir a falsa idéia de que dominamos os meios de comunicação, mas na maioria das vezes, facilmente perdemos o controle.
Há canais de televisão que são voltados especificamente para a comunicação religiosa. Possuem público com semelhante pensamento e objetivo. Povo fiel, conhecedor da Palavra. Há canais de televisão, no entanto, que buscam apenas o que atrai a audiência e, nesse caso, muitas vezes privilegiam atrações baratas e sensacionalistas, que acabam agregando um público muito heterogêneo. Um dia se está no auge; no outro, cadê você? Basta ver o que a mídia consegue fazer quando deseja denegrir a reputação de uma classe ou instituição. Massacraram a Igreja com escândalos protagonizados por um ou outro padre pedófilo, mas se esqueceram de noticiar na mesma proporção que os maiores abusos são cometidos dentro de casa, e estão espalhados por milhares de lares mundo afora.
Os padres cantores que se cuidem. Não sei quanto tempo vai durar essa bajulação da mídia não-católica em torno daqueles que possuem o sonho de ser "pop stars". A vaidade tem se tornado uma característica bastante presente nas pessoas modernas, pois ninguém está livre de ser influenciado pelas tendências individualistas difundidas profusamente nos tempos atuais. Sem vigilância, facilmente se perde o foco e o discurso fica comprometido, às vezes, distorcido. As parcerias aparentemente promissoras podem se revelar fontes de pressão e dar margem a concessões perigosas, desvirtuando o objetivo original. Para tudo isso há que se estar muito preparado e em constante oração-ligação com o Pai, nosso Instrutor por excelência.
Não vai aqui nenhum julgamento ou condenação, apenas o olhar de alguém que se preocupa com a imagem da Igreja nos meios de comunicação. Nosso Senhor nos advertiu certa vez de que não deveríamos dar aos cães o que é santo, nem atirar nossas pérolas aos porcos, pois poderia acontecer deles as pisotearem (Mt 7, 6). Nem sempre é tão simples identificar cães e porcos, pois hoje em dia a maquilagem os transforma em príncipes e princesas. Sem dúvida, é um risco. Mídia é exibição, vitrine. Ficar famoso sempre foi arriscado para quem tem princípios. O topo costuma não ser o lugar onde se encontra muitos amigos, pois há sempre quem queira tomar o seu posto. Também destoa um pouco do servir e da humildade necessária a todo aquele que se sujeita ao chamamento de Deus. Mas, os tempos são outros. Talvez, esteja ultrapassada, afinal, a gente envelhece e nem percebe. Outro dia mesmo eu completava vinte anos...
* Maria Regina Canhos Vicentin é escritora.