Cristóvão Feil *
A fusão entre Sadia e Perdigão formando uma grande empresa internacional de alimentos agora denominada Brasil Foods é um escândalo, porque vai na contramão da tendência mundial de consumo de alimentos saudáveis. O objetivo dessa nova mega empresa não é produzir alimentos saudáveis, mas sim criar condições negociais, logísticas e sobretudo bancário-financeiras para ganhar mercados globais e aumentar o faturamento de maneira exponencial. O governo Lula, ao invés de atacar a formação desses monopólios prejudiciais ao interesse público, estimula-os seja com recursos estatais do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), seja com a leniência do CADE (Conselho Administrativo de Defesa Econômica). Hoje apenas uma autarquia federal que tão somente homologa as fusões e aquisições monopolísticas que tantos danos causam à cidadania.
Com a popularidade em alta, o governo Lula sente-se encorajado para fazer políticas que o fraco governo FHC (Fernando Henrique Cardoso) aspirava, mas não tinha capital político para aventurar-se. A política de incentivo à verticalização corporativa de empresas e conglomerados negociais é um exemplo da ousadia lulista no fortalecimento de monopólios e oligopólios em diversos setores da economia brasileira.
Os exemplos mais notórios são os da indústria petroquímica com a agressiva compra da Petroquímica Triunfo pela Braskem no RS (com o auxílio da Petrobras); nas telecomunicações com a fusão Oi e Brasil Telecom; no sistema bancário, com a fusão Itaú/Unibanco; na celulose, com a Votorantim Celulose e Papel adquirindo a Aracruz Celulose, depois de uma inexplicada aquisição do Banco Votorantim por parte do Banco do Brasil; no ramo dos alimentos processados houve a fusão, como já falei, da Sadia com a Perdigão formando a Brasil Foods. E agora, é um comentário do final de semana, com a negociação entre dois frigoríficos, gigantes na exportação de carne bovina para o mundo todo que estão em negociações para unirem-se, formando um grande monopólio de carne bovina para exportação.
Em todas essas transações privadas está sempre presente a mão amiga do Estado, conduzido pelo lulismo de resultados. Os oligopólios contribuem para preços continuamente em alta, justamente pela ausência de concorrência. E oferecem produtos e serviços precários, haja visto o exemplo da telefonia tanto móvel quanto fixa no Brasil. Dá também para alimentos de sanidade duvidosa e também empresas que prejudicam muito o meio ambiente. São empresas insustentáveis, do ponto de vista ambiental. E acresce o fato de constituírem enclaves econômicos inexpugnáveis ao controle público, à lei e ao próprio Estado.
Pensem nisso, enquanto eu me despeço.
* Cristóvão Feil é sociólogo e editor do blog Diário Gauche. www.diariogauche.blogspot.com
Fonte: Agência Chasque