Convocar e enviar: o dinamismo da Missão

Jaime Carlos Patias *

O fio condutor da missão da Igreja que une as reflexões missiológicas do concílio Vaticano II, das conferências de Medellín, Puebla, Santo Domingo e Aparecida encontram sua origem na missão de Deus, concretizada na Criação, na Encarnação e na Redenção (cf. AG 2ss). Pelo envio de Jesus Cristo ao mundo, a missão de Deus ganha, ao mesmo tempo, visibilidade e vulnerabilidade. Jesus nos revela o rosto misericordioso e justo de Deus. É a lógica de Deus-Amor, da gratuidade e do serviço demonstrado no lava-pés e na cruz.

O Vaticano II destacou uma novidade teológico-pastoral para a ação missionária da Igreja. A missão não é mais algo exterior, uma entre tantas atividades mas parte integrante da identidade e natureza eclesial (cf. AG 2) que se definiu como povo de Deus, sacramento universal da salvação. O povo de Deus em seu conjunto, por sua natureza e vocação, é missionário chamado “para manifestar e comunicar a caridade de Deus a todas as pessoas e povos” (AG 10).

A aplicação do Vaticano II na América Latina e no Caribe fez com que, a Igreja no Continente passasse do “ter missões” – com a finalidade de ganhar almas – ao “ser missionária” para estar universalmente próxima do outro - opção pelos pobres - “responsabilidade para com o mundo” (AG 36b). A Igreja aprendeu os dois movimentos básicos de sua missionariedade com Jesus de Nazaré: convocar e enviar.

Ao colocar no centro do seu discurso a necessidade de ser discípula missionária, a conferência de Aparecida resgatou a identidade e a natureza da Igreja. Para que isso se concretize, o documento aponta caminhos que passam pela “conversão pastoral e renovação missionária das comunidades” cristãs.

“Esta firme decisão missionária deve impregnar todas as estruturas eclesiais e todos os planos pastorais de dioceses, paróquias, comunidades religiosas, movimentos e de qualquer instituição da Igreja. Nenhuma comunidade deve se isentar de entrar decididamente, com todas suas forças, nos processos constantes de renovação missionária e de abandonar as ultrapassadas estruturas que já não favoreçam a transmissão da fé” (DA 365).

Iniciativas nessa direção, como a Missão Continental, o Ano Catequético Nacional, o Ano Paulino e o despertar para a missão Além-fronteiras, quando bem articulados entre si, são grandes oportunidades para implementar o ousado projeto de Aparecida. Para alcançar a necessária conversão pastoral e renovação missionária pela iniciação cristã, a Igreja deveria retomar os dois movimentos fundamentais na vida e na missão de Jesus: a convocação e o envio – proximidade na universalidade.

Convocar significa chamar do individualismo, da dispersão desarticulada, de uma massa alienada e indefinida, de uma instituição pesada, duma estrutura ultrapassada, para constituir comunidades alicerçadas na relação fraterna de irmãs e irmãos, e enviar essas comunidades ao mundo. Congregar em função do envio e enviar em função de formar, nas comunidades, agentes do Reino. Aqui está o sentido da vida comunitária dos cristãos das Comunidades Eclesiais de Base e de todas as comunidades cristãs. O que define a identidade e a missão do jeito CEBs de ser Igreja é o mistério de Cristo, que revela a misericórdia e a compaixão de Deus em relação a todo o ser vivo e à vida ameaçada, como fundamento de toda a ação evangelizadora. Educar para viver a fé na proximidade e na universalidade resgata a identidade missionária da Igreja discípula de Jesus morto e ressuscitado, sacramento universal da salvação entregue ao serviço e à inclusão na unidade e diversidade.

* Jaime Carlos Patias, imc, mestre em comunicação e diretor da revista Missões.

Fonte: Revista Missões

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