Estefan George Haddad *
Inflação crônica, queda no crescimento da economia, redução do poder de investimento, perda acelerada do poder aquisitivo, ajustes fiscais constantes e uma dívida externa que ninguém sabia onde ia parar, isso sim foi crise, quando, em meados da década de 1980, o Brasil vivia todos esses sintomas que levaram o país a amargar longos anos de dificuldade econômica até conseguir chegar aos patamares de solidez, como estamos vivendo atualmente.
Na economia real, se assim podemos chamar, estamos observando sim um cuidado experiente de quem já passou por crises e conseguiu sair de todas elas. Se hoje existem empresários que estão nos negócios há mais de 20 anos, sabem exatamente do que estou falando. A retração nos investimentos, precaução nos gastos e mais atenção nos acontecimentos globais, são os cuidados que temos observado no mercado de maneira geral. Nos dias atuais, apesar de ouvirmos com muita freqüência a palavra crise, ela ainda não chegou por aqui com a mesma intensidade como no passado e como vem atingindo, com tamanha força, países que tinham ou ainda têm negócios direto com a economia norte-americana.
Como vivemos numa economia globalizada, não estamos isolados numa ilha, onde não chega nenhuma embarcação. É claro que a economia brasileira sentirá alguns impactos da crise internacional. As Bolsas de Valores sentiram os efeitos dessa crise internacional. Os investidores, principalmente os estrangeiros, por medo, insegurança e, por serem apenas especuladores, fizeram com que as bolsas brasileiras operassem em baixa por vários dias, causando um clima de incerteza na estabilidade econômica, o que provocou desvalorização de muitas companhias sérias que têm ações negociadas em bolsa.
Esses especuladores provocaram, por exemplo, a queda nos preços de uma de nossas grandes commodities, a soja. No mês de setembro, o preço do produto chegou a desvalorizar cerca de 25%. A queda sobre a cotação da commodity é resultado das baixas registradas na Bolsa de Chicago, provocada pela saída de investidores dos negócios e pelas inseguranças estabelecidas pelo atual contexto. Após a aprovação do pacote de ajuda às instituições dos Estados Unidos, que injetou mais de US$ 850 bilhões, tudo vem voltando à normalidade gradativamente. Aqui no Brasil com mais velocidade do que lá fora, onde os analistas estimam que a ordem estará restabelecida em meados do segundo semestre de 2009.
Não estamos vivendo como nas décadas de 1980 e 1990 com dificuldades de produção nas indústrias, níveis altos de desemprego, inflação descontrolada, etc, etc, etc. Pelo contrário, acompanhamos pesquisas de instituições de classe que dizem que os rumos do Brasil são: aumento do poder aquisitivo, PIB em crescimento constante, saldo favorável da balança comercial - apesar da pequena queda nas exportações e dos momentos de alta do dólar -, aquecimento da produção de commodities agrícolas e minerais, entre outros fatores que nos colocam de forma positiva diante da economia global.
Na metade do mês de outubro, o governo ampliou a concessão de recursos para o crédito rural, liberando ao produtor R$ 5,5 bilhões em toda a rede bancária, a uma taxa de juros de 6,75% ao ano. Apesar do sintoma de crise que nos ronda, a liberação dessa cifra ajudará ao setor agrícola a melhorar os números de 2008 que já mostram crescimento em relação ao ano passado. As exportações dos produtos lácteos, por exemplo, atingiram US$ 398 milhões, entre janeiro e setembro deste ano, contra US$ 299 milhões em 2007, de acordo com dados divulgados pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.
Numa corporação, a boa gestão é aquela que define os rumos da sustentabilidade através da governança e agrega todos os stakeholders para que o bem comum - a perenidade de todos - esteja garantido. Num país, é claro, guardadas as devidas proporções, a linha de raciocínio é a mesma.
*Estefan George Haddad é sócio-diretor da BDO Trevisan do Escritório de Ribeirão Preto.
Fonte: Envolverde