Luiz Alberto Barbosa *
De algo sempre haveremos de morrer, mas já se perdeu a conta aos seres humanos mortos das piores maneiras que seres humanos foram capazes de inventar. Uma delas, a mais criminosa, a mais absurda, a que mais ofende a simples razão, é aquela que, desde o princípio dos tempos e das civilizações, tem mandado matar em nome de Deus". ( José Saramago)
O Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, 21 de janeiro, foi instituído pelo presidente da República, com a Lei Nº 11.635, em 27 dezembro de 2007. A data deve ser celebrada anualmente em todo o território nacional, fazendo parte do Calendário Cívico da União para efeitos de comemoração oficial. Este é o segundo ano em que a data oficialmente será lembrada. E aqui vale algumas reflexões sobre o que leva uma sociedade em pleno século XXI a ter que instituir uma data para lembrar que temos que combater a intolerância religiosa. Como diz José Saramago, em nome de Deus, a humanidade tem cometido as maiores atrocidades e inventado as piores maneiras de perseguir e até matar pessoas simplesmente por não professarem a mesma fé. Isto por si só já mostra o quão desumano os humanos são. Principalmente na história das grandes religiões monoteístas, ao longo da história, percebemos oscilações de pacífica convivência intra e inter-religiosa, intercalados com momentos de extrema violência. Percebemos o ápice desta intolerância no Cristianismo quando na Idade Média os judeus passaram a ser perseguidos incansavelmente pela Inquisição, sendo obrigados a abjurarem de sua fé ou pagarem com a própria vida por professarem outra crença. Todavia esta intolerância não se dá apenas entre membros de uma religião contra outra, sendo que muitas vezes acontecem as maiores atrocidades entre membros de um mesmo grupo religioso, sendo as guerras entre cristãos uma constante na história (Católicos, Protestantes, Anglicanos, Evangélicos...). Ainda está fresca na memória as imagens de uma batalha insana dentro de um dos lugares mais sagrados do Cristianismo ocorrida entre cristãos ortodoxos armênios e gregos no dia 8 de novembro de 2008. Exemplos como este continuam a acontecer em todos os lugares todos os dias, cobrindo de vergonha a todos que professam o nome de Deus, seja ele Javé, Allá, Krishna, Orixás...etc. Graças à este mesmo Deus temos também ao longo da história ventos de tolerância e respeito professado por indivíduos que buscam trazer um pouco de racionalidade a atitudes tão irracionais. Infelizmente no Brasil episódios de intolerância são freqüentes, não apenas no campo religioso, ocorrendo com também na área cultural, étnica, política e em questões de gênero e sexual, além do terrível desnível social que ainda impera no País. Esta intolerância está presente no dia a dia de milhões de brasileiros, em todos os lugares, seja no âmbito doméstico, nas escolas, igrejas, nos locais de trabalho e outros espaços públicos e privados, assumindo formas de violência implícita ou explicita, alimentando o ódio e o preconceito, destruindo sonhos e esperanças. Quando esta intolerância se dá simplesmente por questões religiosas, consegue-se passar por todos os limites das relações humanos, não respeitando sequer o Sagrado. O Dia Nacional de Combate à intolerância serve para nos mostrar que queremos e podemos construir uma sociedade melhor, um Brasil melhor para nós e as futuras gerações, em que a liberdade de expressão e de vivência de suas opções e crenças sejam respeitadas, colocando a vida e a dignidade humana como valores fundamentais a serem preservados. Como sociedade, devemos denunciar todo e qualquer tipo de violência, preconceito e intolerância, pregando sempre a construção de uma cultura de paz e diálogo entre todos. Saudamos o Presidente Lula, que não apenas instituiu o dia 21 de janeiro como dia nacional de combate à intolerância Religiosa, assim como no último dia 27 de dezembro, no Rio de Janeiro, anunciou o Plano Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, com o objetivo de dar atenção especial às práticas religiosas que sofrem preconceito no Brasil e impor punições drásticas às fontes do preconceito. Sabemos que apenas leis e boa vontade não mudam uma sociedade, mas ajudam a construir um país melhor e inclusivo para todos, em que a diversidade religiosa seja respeitada e garantida a todas as pessoas. * Rev. Luiz Alberto Barbosa, secretário Geral do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil, mestre em Ciências da Religião. Fonte: CONIC - Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil |